23 maio 2025 | Entretenimento
O Festival Internacional de Cinema em Cannes acontece até o próximo sábado (24), e reúne artistas de todos os segmentos criativos da indústria cinematográfica em uma celebração da sétima arte – e uma vitrine importante para os seus realizadores. É nesse contexto festivo que o Ceará aparece em destaque no Festival deste ano: quatro curtas-metragens produzidos em Fortaleza estrearam em Cannes por meio de uma parceria do governo do estado com a Quinzena dos Cineastas – evento paralelo ao festival principal e dedicado a revelar novos nomes no cinema global.
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A produção dos curtas é o resultado do projeto “Director’s Factory”, uma iniciativa patrocinada pelo governo do estado, que reuniu duplas de diretores do Brasil, França, Cuba, Portugal e Israel. O programa busca fomentar a produção audiovisual local e sua internacionalização, colocando o Ceará no mapa-múndi da indústria cinematográfica. O projeto existe desde 2013, com passagens por Dinamarca, Chile, Taiwan, Portugal, África do Sul, Filipinas e Finlândia. Agora, chega ao Brasil e tem como padrinho o cineasta cearense Karim Aïnouz, que no ano passado participou do festival com o filme “Motel Destino” e concorreu ao Palma de Ouro – prêmio máximo concedido pelo júri de Cannes.
Karim é também um dos mentores do Laboratório CENA 15, programa da Escola Porto Iracema das Artes – equipamento de formação cultural gerido pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará – que oferece bolsas para o desenvolvimento de projetos de roteiro vindos de todo o país. Sobre o Factory, Karim destacou a importância dessa e de outras políticas públicas para o desenvolvimento da cena artística e cultural no estado:
“É a continuidade de um projeto do Estado do Ceará, especificamente em formação no audiovisual, que faz parte de um investimento maior em educação. A gente vem fazendo o CENA-15 desde 2013. Embora a Factory não seja ligada, ela vem a reboque de um esforço político em formação no audiovisual, de roteiro, de contar histórias no cinema e na televisão. É o fruto de um trabalho de construção de cadeias, de redes de cooperação que vêm acontecendo há bastante tempo”
O projeto “Director’s Factory” busca estabelecer cooperações internacionais no segmento audiovisual e seleciona anualmente até 8 cineastas de países emergentes com projetos de primeiro ou segundo longa-metragem para, em duplas, produzirem quatro curtas-metragens apresentados na Quinzena dos Cineastas em Cannes. Nesta edição, o comitê de seleção escolheu artistas do Ceará, Alagoas e Amazonas ao lado de outros diretores internacionais. As obras que fizeram sua estreia em Cannes são: A FERA DO MANGUE, de Wara (Ceará) e Sivan Noam Shimon (Israel), A VAQUEIRA, A DANÇARINA E O PORCO, de Stella Carneiro (Alagoas) e Ary Zara (Portugal), PONTO CEGO, de Luciana Vieira (Ceará) e Marcel Beltrán (Cuba), e COMO LER O VENTO, de Bernardo Ale Abinader (Amazonas) e Sharon Hakim (França).
Luciana Vieira, uma das participantes representando o Ceará, conta estar feliz em poder participar desta edição e assim ajudar a colocar o Nordeste nos holofotes da indústria cinematográfica. “É uma forma de jogar luz em uma região sub-representada dentro do próprio país. A gente chama a atenção e diz: a gente está aqui, a gente existe, tem força, criatividade, condições, estrutura técnica. Porque, óbvio, isso não vai ser imediato, mas é uma construção cultural”, comentou a diretora que também é uma das criadoras da série cearense “Se Avexe Não”, disponível na Netflix.
Jade Tavares participou da produção de dois dos curtas: “A Vaqueira, A Dançarina e O Porco” e “Como Ler O Vento”. Recém-formada pelo curso básico de audiovisual do Centro Cultural Bom Jardim, Jade fez três entrevistas até conseguir a vaga de estagiária para participar do projeto — um sinal de que tinha de estar ali. Trabalhar na Factory a ajudou a entender melhor o segmento audiovisual, passeando por vários departamentos e integrando uma verdadeira equipe: “Eu senti que eu fazia parte de um time. Eu senti que não estava ali apenas como estagiária. Eu era parte do time da direção. Não tenho um ponto negativo a falar da experiência, porque eu estava aprendendo o tempo todo: o que fazer, o que não fazer, como se portar em determinado momento, como lidar com um departamento, como lidar com as pessoas — e isso foi talvez a coisa mais importante que aprendi”.
Confira a seguir as sinopses dos filmes apresentados em Cannes pelo Projeto “Director’s Factory”:
PONTO CEGO (2025, Brasil / França, 19min)
Roteiro & Direção: Luciana Vieira (Brasil) & Marcel Beltrán (Cuba)
Elenco principal: Ana Luiza Rios (Marta)
Sinopse: Marta é engenheira responsável pelas câmeras de segurança do porto de Fortaleza, um ambiente onde mulheres silenciadas convivem com o anonimato e o desprezo. Mas Marta está pronta para romper o silêncio.
A VAQUEIRA, A DANÇARINA E O PORCO (2025, Brasil / França, 10min)
Roteiro & Direção: Stella Carneiro (Brasil) & Ary Zara (Portugal)
Elenco principal: Jupyra Carvalho (Alex), Amandyra (Iasmin), Marcos Bruno (Carlos)
Sinopse: Uma vaqueira travesti encontra sua amada, uma dançarina negra, sob o controle de um porco sanguinário apaixonado por trufas. O que começa como uma fuga por amor aos poucos se transforma em um duelo surreal: um faroeste banhado a sangue, sororidade e resiliência.
COMO LER O VENTO (2025, Brasil / França,14min)
Roteiro & Direção: Bernardo Ale Abinader(Brasil) & Sharon Hakim(França)
Elenco principal: Isabela Catão (Marjorie), Esther de Paula (Cassia)
Sinopse: Há alguns anos, Cássia, uma curandeira tradicional, vem ensinando pacientemente seus segredos a Marjorie, sua jovem discípula. Agora, o destino chama Marjorie a assumir esse legado.
A FERA DO MANGUE (2025, Brasil / França, 14min)
Roteiro & Direção: Wara (Brasil) & Sivan Noam Shimon (Israel)
Elenco principal: Samires Costa (Moacir), Garcyvyna (Joshua), Sarah Escudeiro (la Bête)
Sinopse: Houve um tempo em que um homem de poderes ilimitados exigia descendentes. Quando uma de suas vítimas liberta a fera dentro de si, uma mítica força vingadora vem galopando pelas águas do manguezal.