17 fev 2021 | Lifestyle
Manifestação cultural que representa a base étinico racial do povo cearense, o maracatu é uma das mais importantes e tradicionais manifestações culturais carnavalescas do estado. Desde a criação dos maracatus “Az de Ouro”, “Az de Espada” e “Rei de Paus”, na década de 1930 e 1940, os tradicionais desfiles estão resistindo ano a ano como o maior legado da cultura africana no carnaval do Ceará. A Rainha do Maracatu Nação Fortaleza, Débora Sá, compartilhou com o Site MT, registros da infância e dos últimos carnavais como brincante na Av. Domingos Olímpio. Débora é também uma das entrevistadas no segundo episódio da série especial de podcasts sobre o Carnaval de Fortaleza.
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MT Cast #31: a identidade do Carnaval na capital cearense
Há 28 anos, Débora Sá começou a brincar maracatu ainda criança, aos seis anos de idade, levada pela família. Nessa época, ela desfilava como dama da Rainha e princesa no cortejo do “Az de Ouro”, fundado em 1936, a agremiação é a mais antiga em atuação na capital cearense. “Minha família toda é de maracatu, as pessoas vão nascendo e entrando na festa”, conta.
“Me lembro bem de ir com meus dois irmãos e minha mãe para a sede do ‘Az de Ouro’, o maracatu mais antigo de Fortaleza. Tenho a sorte de morar no bairro Jardim América, onde é a sede do maracatu, então, desde pequena frequento. Minha memória mais antiga é me preparar para entrar no desfile, é muito marcante para mim”, relembra. Além de ser princesa no cortejo, Débora também substituiu a rainha do “Az de Ouro”, ali começava a trajetória que percorre até hoje no maracatu “Nação Fortaleza”, fundado em 2004. Ela está há 16 anos como rainha da agremiação.
O que muita gente não sabe é que durante muito tempo apenas os homens poderiam desfilar, ocupando, inclusive, o posto da rainha do maracatu. Só em 1988, dona Eulina Moura fez história ao ser a primeira rainha de uma agremiação desse tipo, desfilando no maracatu Verdes Mares. A trajetória da rainha Eulina Moura abriu espaço para que Débora também pudesse ocupar o cargo de maior destaque no maracatu.
De acordo com ela, a presença da mulher no maracatu reflete o avanço da sociedade, que cada vez mais conta com mulheres empoderadas em diversos espaços, inclusive, no carnaval. “Ocupei o meu lugar de direito, não existe nenhum lugar que diga que a mulher não pode ser rainha. Claro, que até hoje a gente sofre com comparações, mas ocupamos um lugar de direito. Eu sou mulher e posso ser rainha”, pontua.
Com o avanço da pandemia no Ceará, bem como a não realização do carnaval em Fortaleza, em 2021, muitos brincantes e pessoas que sobrevivem da festa não tiveram acesso aos dias de folia. A partir disso, a websérie “Conta Comigo”, gravada durante a pandemia, visa contar a história do maracatu cearense por meio das falas dos próprios brincantes, uma forma de não deixar a falta da festa passar despercebida. Lançado em janeiro, no Youtube, o projeto é fomentado pela Lei 14.017, conhecida como Lei Aldir Blanc, e tem direção de Débora Sá; roteiro de Kadu Lopes e Iara Fraga; assistência de produção de Felipe Santos e a produção audiovisual da Mattos Produções.