13 maio 2025 | Moda
A 26ª edição do DFB Festival, o maior evento do segmento de moda autoral no Ceará e um dos maiores no país, começa nesta quarta-feira, 14. Vitrine de inúmeras marcas e nomes relevantes da indústria local e nacional, o DFB também é palco de oportunidade únicas para novos talentos, especialmente para estudantes de moda e design de todo Brasil que competem no Concurso dos Novos.
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DFB 2025: Estilistas comentam o que esperar do festival
Pensando também nos alunos já formados desses cursos ou que acabaram de se estabelecer no mercado autoral, o festival vem esse ano com uma série de desfiles especiais para dar destaque a esses talentos e assim fomentar o empreendedorismo entre quem já passou pelo processo formativo: o DFB Revela. A convite do organizador do evento, Cláudio Silveira, coleções de designer vindos do Centro Universitário Ateneu (UniAteneu), da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e da Universidade de Fortaleza (Unifor) desfilarão no DFB Revela esse ano. A Plataforma MT conversou com Alan Araujo, ex-aluno da UFCA, idealizador e responsável pela coleção Tem Macaxeira no Feijão que desfilará como destaque no DFB 2025.
Natural do Crato, mas criado em Nova Olinda, Alan se formou em Design de Moda na UFCA em 2015 e desde então trabalha na sua marca autoral 407 AA (@407a.a). O nome da marca mergulha no passado do designer e faz referência a casa de sua avó em Nova Olinda – formando o endereço com as iniciais de Alan. Dessa maneira, o estilista afirma bem o que almeja com seu trabalho: um resgate de histórias, afetos e memórias através de roupas, joias e acessórios produzidos em pequena escala a partir de retalhos e peças já existentes.
Sua relação com DFB começou ainda no curso, quando ele e os colegas vinham à Fortaleza para assistir os desfiles. Em 2018, também participou de um estande, organizado pelo SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), com outros ex-alunos exibindo seus respectivos trabalhos. A participação no DFB Revela veio por intermédio da coordenação do curso de Design de Moda da UFCA, que estendeu o convite aos egressos do curso atualmente no mercado de moda para saber se algum deles tinha interesse em desfilar uma coleção própria ou formar uma equipe para isso. Alan era o único que estava com uma coleção para nascer – um parto que veio no momento propício. A universidade abraçou a ideia e assim nasceu a coleção Tem Macaxeira no Feijão.
O conceito por trás das peças que compõe a coleção remete novamente à própria história de Alan e costura uma colcha de retalhos com suas memórias de infância vividas no Cariri cearense dos anos 90. E é uma história de sua terra que Alan pretende trazer para as passarelas do DFB: a lenda da ponte de pedra, localizada no sítio olho d’água na cidade de Nova Olinda. Lá, segundo a tradição, se encontra a entrada para um castelo encantado protegido por uma princesa com rosto de mulher e corpo de cobra. Essa história inspirou o ilustrador João Cortes, convidado por Alan a criar um desenho transformado em estampas e patches, desenvolvidos em parceria com o Cogumelo Ateliê (@cogu.melo_)
Mas o intuito da coleção está em trazer para a passarela a memória afetiva da comida de casa, da mãe, da avó, do aconchego que esse tempero familiar traz, das histórias que destravam em nossas lembranças e do imaginário que compõe as referências de Alan. Dividida em cinco famílias – macaxeira, feijão, pimenta, coentro e sal – a coleção bebe de referências globais desde as vestes das tradicionais senhorinhas da localidade até personagens de animes, costurando um lugar para se revisitar sempre que houver a necessidade.
Embora tenha idealizado a coleção por conta própria, Alan contou com a parceria de artesãs e marcas locais, como o Ateliê Ecoed (@atelieecoed) que auxiliou na utilização de malharias 100% algodão de origem rastreada. As peças foram feitas com retalhes e reaproveitamento de materiais, o que permitiu criar novas texturas e novos tecidos. A artesã Celeste Franco auxiliou nos crochês de algumas peças e a joalheria, que emula as favas de feijão e a textura da macaxeira, ficou por conta de Dayane Araújo (@dayanearaujoias).
O tema do DFB 2025 sobre “Inteligência Autoral” é um convite para reflexão sobre questões de autoralidade ante ao domínio da inteligência artificial nos processos criativos. Alan lembra também que esse tema abre espaço para celebrarmos as tecnologias ancestrais que carregamos nos nosso DNA: as artesanias e um jeito de fazer moda único no mundo. O designer celebra ainda projeção que o Cariri vem ganhando recentemente, e a participação no DFB Revela também é um dos motivos de orgulho de pertencer à região:
“Fico muito feliz em ver o cenário de moda no Cariri está tão efervescente. Uma região tão forte culturalmente, berço dos grandes mestres da cultura, onde realmente enxergo como um vale encantado tem um potencial enorme a se mostrar enquanto moda. Não é a toa os olhares estarem todos se voltando para essa região. Fico muito feliz em poder mostrar o nosso trabalho e a força criativa e de execução que possuímos. Afinal moda é expressão, reflexo da cultura de um povo, então como não lembrar do nosso dizer: ‘quem bebe das águas do Cariri não esquece jamais’.”
A participação no DFB Revela marca também os 10 anos de carreira de Alan. Com a coleção já finalizada e a ansiedade para o grande dia, o estilista estreia no segundo dia de festival (15/05). A cobertura completa do DFB 2025 você confere na Plataforma MT.