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O que é Comunicação Não-Violenta? Dominic Barter fala sobre a pesquisa que promove a competência relacional

24 jan 2023 | Notícias

Por Redação

A pesquisa em ação, iniciada há quase 60 anos pelo Dr. Marshall Rosenberg, promove a competência relacional, a resiliência emocional e a firmeza política

Radicado no Brasil há 30 anos, Dominic Barter foi precursor de Comunicação Não-Violenta no país e aprendiz e colega durante 18 anos do Dr. Marshall Rosenberg (Foto: Divulgação)

Você tem medo de conflitos ou não consegue expressar insatisfações nas suas relações profissionais e pessoais? Pois saiba que a Comunicação Não-Violenta pode te ajudar. A pesquisa em ação, iniciada há quase 60 anos pelo Dr. Marshall Rosenberg, promove a competência relacional, a resiliência emocional e a firmeza política necessária para sustentar parcerias fortes e flexíveis. Quem fala mais sobre o assunto é Dominic Barter, pesquisador social da Comunicação Não-Violenta e referência internacional em Justiça Restaurativa.

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Radicado no Brasil há 30 anos, Dominic foi precursor de Comunicação Não-Violenta no país e aprendiz e colega durante 18 anos do Dr. Marshall Rosenberg, a quem sucedeu como presidente do conselho diretor do Centro Internacional de Comunicação Não-Violenta, com sede nos Estados Unidos. É co-fundador da desescola pública Espaço Beta e co-autor do processo de sustentação comunitária Corresponsabilização Financeira.

O que é a Comunicação Não-Violenta?

Dominic: A Comunicação Não-Violenta é uma forma de usar nosso poder para cocriar o mundo e as relações que a gente deseja. As premissas, na verdade, são perguntas em vez de afirmações, e a hipótese principal é a de que o que nos motiva como seres humanos são valores, princípios e necessidades que temos em comum. Então, as diferenças surgem nas formas em que a gente se alinha com esses valores e procuramos atender essas necessidades. Ali tem a legítima diversidade entre as pessoas, mas simultaneamente, como fundamento, nossa humanidade compartilhada é feita de valores e necessidades que todos compartilham. Sendo assim, eu posso compreender as razões boas porque você faz as coisas que eu não gosto e entender que essa diferença entre a gente não é uma separação e, portanto, é algo aberto a negociação. Eu sempre posso mudar a minhas estratégias. Eu não posso abrir mão daquilo que é nossa humanidade compartilhada. Não posso abrir mão dos valores que temos em comum.

Na sua opinião, quais são os primeiros passos que podem ser dados rumo à Comunicação Não-Violenta?

Dominic: Você pode aprender com alguém que já está encaminhado nessa pesquisa e uma forma de fazer isso seria ler um dos livros escritos por Marshall Rosenberg. O segundo caminho, que talvez seja mais produtivo mas temos menos costume de fazer, é começar a observar a própria vida, a maneira que você se trata, que você trata os outros, a maneira que você interage nos sistemas sociais e observa onde talvez você está reproduzindo discursos e comportamentos que seguem ainda uma lógica de dominação, a lógica colonial em que todos nós somos formados. Por exemplo, você pode ver uma certa animação na ideia de punir as pessoas que são rotuladas como “erradas”. Alguns de nós sentimos um certo alívio quando vemos alguém agindo de uma forma autoritária porque acreditamos que isso vai criar segurança, justiça e que isso vai corrigir as pessoas que nos ameaçam, porém, se a gente olhar um pouco mais fundo vemos que isso de rotular o outro e depois condená-lo faz muito mal pra nós mesmos, faz mal pro outro e faz muito mal socialmente também.

O processo de designar inimigos e depois de tentar combatê-los é incompatível com uma vida saudavelmente democrática. Então, observar essa tendência se reproduzindo dentro de nós é talvez o primeiro passo pra gente começar a questionar até que ponto estou escolhendo conscientemente como eu quero viver e conviver e até que ponto isso está alinhado com os valores e necessidades que tenho em comum com todos os seres vivos. Dar atenção pra esses momentos pode me ajudar a começar a buscar cada vez mais formas de agir alinhado com nossos valores e isso é o verdadeiro começo do nosso trabalho com a Comunicação Não-Violenta quando a gente começa conscientemente a escolher como aplicar nosso poder na coconstrução do mundo em que queremos viver.

Você pode dar dicas de como podemos exercitar a Comunicação Não-Violenta?

Dominic: Como eu disse, podemos começar a observar a forma como interagimos com outra pessoa. Interessante também é a curiosidade que a gente começa a ter sobre a diferença entre o que as pessoas falam e o que elas querem dizer com aquilo que falam. Quando aprendemos um idioma com várias frases fixas a gente tende a repetir, não é? Bordões do dia a dia. E a gente usa esses bordões na esperança de ser compreendido pelo outro. Mas quando eu falo sempre de uma forma mais limitada, eu nunca dou conta da especificidade da mensagem que quero passar no momento. Então, uma forma de começar a abrir essa porta de comunicação nas relações é desenvolver uma curiosidade que vai além de ouvir as palavras que a pessoa usa e começa a ter uma escuta do sentido que a pessoa quer passar com as palavras.

O que inspirou você a seguir essa área?

Dominic: Nasci na Inglaterra e me apaixonei por uma brasileira segui ela pro Brasil, cheguei no Rio de Janeiro em 1992 e vi as maravilhas da cidade, mas também vi o sofrimento e a violência do dia a dia. Se eu iria manter a relação e viver na cidade, me senti fortemente chamado a não estar somente curtindo as maravilhas que o Brasil tem, mas também entendendo porque existe esse estado de guerra civil diário que a gente normalizou de tal forma que às vezes até esquece as consequências pra tantas pessoas no nosso dia a dia. Então pra mim, foi extremamente importante não me manter ausente nessa situação e procurar descobrir como eu podia contribuir, então, veio as minhas primeiras conversas com diferentes grupos de jovens nas favelas do Rio, a partir de 1995, que originou o desenvolvimento dos Ciclos Restaurativos que foi a primeira prática de Justiça Restaurativa escolhida pelo Ministério de Justiça. A partir disso, comecei a ficar muito curioso nessa área e um ano e meio depois de começar esse trabalho conheci Marshall Rosenberg, a pessoa que sistematizou a Comunicação Não-Violenta e acabou sendo a primeira pessoa que encontrei que entendeu o trabalho que eu estava fazendo junto com os jovens.

A parceria dele virou essencial para me ajudar nessa pesquisa e a entender o que eu mesmo estava observando na colaboração que eu tinha com os jovens e dar um “chão conceitual” pra compreender o que nós estávamos conseguindo fazer lá. A partir desse momento, vi o imenso valor do trabalho do Marshall e tive o privilégio de andar ao lado dele durante 18 anos.

Nos anos 1990, você iniciou o desenvolvimento de Círculos Restaurativos no Brasil promovendo sistemas dialógicos comunitários com jovens nos morros cariocas. Como foi essa experiência?

Dominic: Para mim é muito importante as pessoas saberem que essa modalidade de Ciclos Restaurativos já inspirou práticas em mais de 50 países ao redor do mundo no nível comunitário até governos e o próprio ONU ela está por trás de resolução de inúmeros diferentes conflitos duros tanto familiares quanto guerra civil e ela inspira pessoas em muitos lugares e eu quero que as pessoas saibam disso porque isso é o Brasil, esse é o Brasil mais marginalizado e mais ignorado com sua criatividade, com sua resiliência, com sua ginga, com essa qualidade que eu encontro particularmente aqui entre Ceará, né? Esse doçura junto com uma certa firmeza. A qualidade de ser firma e e doce no mesmo tempo é exatamente a qualidade que os sistemas sociais dialógicos precisam. Essa qualidade que fazem as escolas se transformarem, o sistema de justiça se transformarem, e isso está sendo muito valorizado nos lugares onde eu vou e isso me dá muito prazer né de viajar e poder falar bem do Brasil nesse quesito numa qualidade muito brasileira mesmo não na tentativa de Brasil ser parecido com os outros lugares mas não assumir de uma cultura e uma característica nacional e eu acho que é uma história muito bonita que eu adoro contar.

Passagem por Fortaleza

Dominic: Em janeiro deste ano, em Fortaleza, Dominic Barter foi facilitador do workshop “Introdução à Comunicação Não-Violenta” e também da oficina prática Justiça Restaurativa, destinada a integrantes do sistema de Justiça local, promovida pelo Núcleo Permanente de Incentivo à Autocomposição (NUPIA) do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF), Escola Superior da Defensoria Pública do Estado do Ceará (ESDP), com apoio da Escola Superior do Ministério Público (ESMP).

Há 25 anos, Dominic colabora no design de sistemas sociais de diálogo, empatia e parceria que promovam respostas inclusivas, sustentáveis e eficazes às necessidades que temos em comum. Nos anos 90, iniciou o desenvolvimento de Círculos Restaurativos no Brasil promovendo sistemas dialógicos comunitários com jovens como resposta ao conflito nos morros cariocas. Em 2005 essa experiência fundamentou o desenho de sistemas restaurativos e a capacitação técnica de dois dos três projetos pilotos em Justiça Restaurativa para a Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério de Justiça, o PNUD e as Secretarias de Educação de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Desde então, orienta grupos na construção de sistemas restaurativos em diversos estados brasileiros, como no exterior, mais recentemente no sistema carcerário da Itália e no conflito na Ucrânia. 

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