25 jun 2025 | Entretenimento
O sertão nordestino já foi palco de diferentes histórias e continuar a inspirar narrativas emocionantes dia após dia. Aventurar-se nas veredas do grande sertão levou aos autores George Moura e Sergio Goldenberg a trabalharem juntos em uma fábula cuja fonte primaz é a vida de uma das maiores lendas da região. Os autores, que trabalharam juntos na novela “O REBU” (2011), assinam a nova novela original da Globoplay “Guerreiros do Sol”, inspirada pela história de Lampião e Maria Bonita.
LEIA MAIS >> ‘Eh do Cariri’: Max Petterson apresenta detalhes de nova websérie
A produção foi gravada em parte na Bahia e em Alagoas e chegou à plataforma de streaming no último dia 11 de junho, com os cinco primeiros capítulos e desde então novos episódios são lançados semanalmente. Com 45 capítulos já finalizados, a novela também está em exibição no Globoplay Novelas. Entre a violência e o romance em um palco de terra árida e arrasada, “Guerreiros do Sol” acompanha a saga de Rosa (Isadora Cruz) e Josué (Thomás Aquino), casal de sertanejos apaixonados que encontram no cangaço uma forma de sobreviver às intrigas e disputas por dinheiro, poder e amor. A história começa quando o pai de protagonista é morto numa tentativa de afastá-lo da heroína, forçada a se casar com Coronel Elói (José de Abreu) a fim de fugir da miséria. Furioso, Josué e seus irmãos entram para o bando de um temido cangaceiro buscando vingança.
O protagonismo da novela recai, entretanto, sobre as personagens femininas, dispostas a desafiar a realidade de violência e opressão que lhes cercam. Entre os destaques está Petúnia, vivida pela atriz cearense Larissa Goés. Natural de Fortaleza, Larissa despontou como atriz nacionalmente após participar de “Velho Chico” (2016). Participou de produções como “Cine Holliúdy” e “ Garotas do Benfica”, ambas do Globoplay. Em “Guerreiros do Sol”, sua personagem entra para o cangaço quando se apaixona por Sabiá (Vitor Sampaio), um dos irmãos do protagonista e membro do grupo de cangaceiros. A partir daí sua realidade se transforma completamente.
A Plataforma MT conversou com Larissa Goés sobre seu trabalho em Guerreiros do Sol, bem como seu projeto paralelo no teatro, a peça “Temporada de Amor”, em cartaz no Rio de Janeiro, e um de seus próximos projetos, a série “Alucinação”, sobre o músico cearense Belchior.
Plataforma MT: Fala um pouco sobre sua trajetória como atriz em Fortaleza e como foi o percurso até chegar na Globo.
Larissa Goés: Eu comecei com 10 anos de idade a fazer teatro. Então, a maior parte da minha trajetória artística eu passei no teatro. O audiovisual, para mim, chegou no meu primeiro trabalho, “Velho Chico”. Eu acho que não vislumbrava, quando eu entrei no teatro, uma lógica de projeção assim: ‘estou começando a fazer teatro para um dia ser famosa ou atuar em novelas’. Eu sequer cogitava assumir isso como uma profissão. Acho que nem entendia direito que isso poderia me dar uma profissão. Isso foi bom porque me fez olhar para o teatro, e amar o teatro, da maneira mais genuína possível, sem esperar na em troca.
Com 15 anos, eu fiz meu primeiro espetáculo onde recebi um primeiro cachê. A ideia de que eu poderia receber alguma coisa [com o teatro] veio dali, mas de longe passou por mim que eu poderia viver daquilo. Tanto é que depois que conclui os estudos, fui fazer faculdade de fisioterapia. Por que fisioterapia? Não faço a menor ideia. Comecei, fiz uns quatro semestres, e aí veio a novela. Quando apareceu “Velho Chico” (2016), foi uma grande virada de chave na minha vida. Eu tranquei a faculdade, foi muito simbólico isso. E fui para o Rio pela primeira vez.
Eu fazia alguns bicos de animação de festa, contação de história, peças de teatro para crianças, ganhava ali uma graninha ou outra. Eu lembro também que dava aula de teatro numa escola de surdos, me virava de todas as pontas. E olha que doido, né? Toda a minha vida voltada para o teatro, para arte, para ensinar e eu insistindo em fazer outra coisa, sabe?
Uma graduação em fisioterapia. Hoje eu acho isso tão distante, mas na época fez sentido de alguma forma. Talvez a pressão social, né? De que a arte é muito incerta e de fato é. É muito inconstante, às vezes, e quando você é desfavorecido financeiramente, é mais complexo ainda para você assumir e se manter dentro dessa profissão que é ser artista no Brasil. Essa era a minha situação. “Velho Chico” me fez olhar de outra forma para o que eu estava fazendo.
A novela em si foi de grande porte. Horário nobre, elenco pesadíssimo, cheio de pessoas que eu admiro demais, e passei a admirar ainda mais quando me aproximei. Aí eu não consegui mais voltar para a faculdade [de fisioterapia]. Voltei para Fortaleza e entrei na UFC (Universidade Federal do Ceará) na Licenciatura em Teatro. Direcionei toda minha energia para isso, de fato. Acho que Velho Chico marca essa grande virada no entendimento do que eu queria fazer. Depois, eu fiz Cine Holliúdy, em 2023, e agora “Guerreiros do Sol”.
PMT: Fale um pouco sobre sua personagem em “Guerreiros do Sol”.
LG: Então, a Petúnia é uma personagem bem diferente das que eu fiz, não só na Globo, mas em qualquer outro trabalho. Ela carrega uma beleza, uma leveza, um olhar brilhante para as coisas. Ela salta quase que com um traço infantil, mas com aquele traço mais bonito da infância, que é a curiosidade, que é o interesse pelas coisas. Acho que a Petúnia tem disso. Pelo menos foi o que eu interpretei dela ao ler e foi esse caminho que fui traçando na atuação. Talvez o público capte uma outra informação a partir do que vê, porque tem uma série de coisas que atravessam o meu trabalho até chegar no público. Então, foi um trabalho muito bonito, uma personagem linda e eu carrego muito amor por ela.
PMT: Você despontou nacionalmente em Velho Chico e agora aparece em Guerreiros do Sol, ambas tramas ambientadas no Nordeste. Qual a importância de participar de projetos que retratem sua região?
LG: Em Velho Chico, eu fazia uma espécie de vilã, apesar dela não ter traços tão vilanescos, mas ela era quem ia contra o casal protagonista da trama. Ela armou para que eles se separassem. Como a novela é dividida em fases, eu fiz a primeira fase, depois a personagem foi assumida pela Lucy Alves, que foi até o final da novela. Depois eu ainda gravei um flashback, mas eu tive essa participação no início da novela, um primeiro contato com tudo. E em Guerreiros do Sol, que traz o cangaço, já é localizado dentro de um outro contexto histórico na década dos anos 1920. Então já me desloco para um outro espaço-tempo.
Uma história sobre o cangaço contada por nordestinos de fato, protagonizada por nordestinos de fato. E quando eu falo isso, não é que eu não queira sudestino falando sobre isso, mas pouquíssimas vezes a gente teve a oportunidade de contar nossa história de fato. Trazer o nosso peso ancestral, carregar a nossa história e contar do nosso jeito, com o nosso repertório, com o nosso vocabulário. Eu não necessariamente falo como a Petúnia fala, mas eu resgato da minha avó, da minha bisavó, da minha mãe, dos meus familiares, assim, tudo aquilo está em mim, está na minha história. E essas tatuagens eu consigo expor nessas personagens. É isso que eu acho mais bonito.
PMT: Você também está atualmente em cartaz no teatro no Rio de Janeiro. Fale um pouco sobre a personagem que você interpreta na peça.
LG: No espetáculo “Território do Amor”, eu faço a Dolores Duran, esse grande ícone da música que caminhou muito comigo e caminha até hoje em muitos momentos. É uma artista que eu sempre admirei, mas mergulhei mais intensamente quando soube que ia fazer [a peça]. Dolores é uma carioca que teve um breve período de vida. Ela, infelizmente, morreu aos 29 anos – a idade de que eu tinha quando soube que ia fazer a peça.
O que eu percebo dos comentários é que ela era muito solar. Ela era da boemia, inteligentíssima, eloquente, intelectual e muito determinada, sabia muito de si. Ela teve um problema no coração, então ela desde muito cedo foi ameaçada de que a vida dela poderia ser breve. E ainda assim ela se permitiu viver. Ela fez o que queria enquanto pode. Eu acho isso muito bonito: ela não se resumiu à doença, ela não se permitiu que a doença determinasse a vida dela.
Tem muita coisa da Dolores que carrego na minha construção de cena, que veio para mim mais desse lugar de histórias, já que não tem tanto vídeo da das performances dela no palco cantando. Eu só achei um vídeo de uma participação que ela fez num filme cantando uma música. Eu também me apropriei das fotografias dela na internet para fazer um desenho de corpo e levar isso para cena.
Então, a Dolores que eu trago no palco são esses retalhos de histórias que eu reuni, que eu li, que eu assisti unidas a relação com as demais personagens ali que estão em cena comigo. Foi um processo também muito inusitado, mas muito bonito. O fato dela ser carioca também me fez aprofundar uma pesquisa sobre esse sotaque, sobre essa cultura. Então, eu adoro fazer Dolores. A voz dela é inesquecível e a obra artística dela é riquíssima.
PMT: Como essas duas personagens se diferem?
LG: É muito curioso associar a Dolores Duran com a Petúnia, porque eu vejo que elas estão inseridas num período de tempo bem próximo. Os anos 20, o período do Cangaço, onde a Petúnia está contextualizada. E a Dolores Duran nasceu em 1930, que é aproximado, mas ao mesmo tempo são regiões diferentes, contextos diferentes, projeção de vida completamente diferentes.
Dolores é essa cantora, compositora, multi-instrumentista, boémia e que tem muitos teve muitos amores, amantes e se permitia muito viver. Já a Petúnia foi criada para ser uma dona de casa, e de repente essa vida que foi toda projetada é interrompida porque ela se apaixona por um cangaceiro e decide viver esse amor. E entra no cangaço de uma maneira muito inesperada e se vê carregando o armamento que ela jamais pensou que iria acontecer, tendo que defender os seus. É ótimo ver as duas agora caminhando paralelamente, porque elas são completamente diferentes.
PMT: Como foi o processo para a construção da Petúnia em Guerreiros do Sol ?
LG: Bem, eu passei por muitas emoções para construir a Petúnia, primeiro porque eu não tive um tempo de preparação. Eu entrei na novela de Supetão, eu não estava escalada para personagem. A atriz que antes fazia Petúnia engravidou, e precisaram fazer uma substituição, porque ia ter viagem e a o período de gravação ia ser longo. Eu recebi a ligação na segunda, na terça estava assinando o contrato, na quarta eu estava fazendo prova de figurino e na quinta gravando. Foi basicamente isso assim. Nesse meio-tempo, eu tive para ler os 45 capítulos.
Eu virava noite lendo e paralelamente estudando sobre o cangaço porque o meu conhecimento até então era muito superficial. Então procurei livros, procurei filmes que retratassem [o cangaço], conversei com amigos que entendem bem sobre a temática e para mim foi muito importante, mas o tempo foi absurdamente corrido. A parceria que eu tive com o elenco, com a preparadora de elenco Andrea Cavalcanti, com o Vitor Sampaio que faz meu par romântico, o Sabiá, foi imprescindível para que a Petúnia fosse chegando, porque ela se construiu a partir das relações, da afetividade e do meu entendimento.
Eu joguei muito com emoção. Ela se construiu dessa forma nesse período de tempo recorde. Isso nunca tinha acontecido comigo assim. Foi um desafio, foi exaustivo, foi muito intenso, mas foi tão gratificante e hoje assistir a Petúnia na tela me lembro de tanta coisa bonita que eu passei e é um sentimento muito bom que toma conta de mim.
PMT: Há alguma cena mais memorável ou que o público deva prestar atenção na sua personagem?
LG: Essa vai ser uma pena que eu não vou conseguir responder como eu gostaria, porque a cena que, para mim, foi mais memorável de se fazer ainda não foi exibida e eu não posso dar spoiler. Mas a Petúnia, nessa cena, ela tomou uma atitude bem drástica e foi muito intenso gravar isso, foi bem cansativo emocionalmente e fisicamente também.
PMT: Para finalizar, fale um pouco sobre seus próximos projetos, em especial a série Alucinação, sobre o músico cearense Belchior.
LG: Na série sobre o Belchior, eu faço a Téti Rogério, uma artista cearense que ainda é viva e celebrada. Ela também está na minha formação artística, então poder homenageá-la na série foi um grande presente. Eu acredito que a série vai ser lançada no início do ano que vem ou no final desse ano. Vai para o Globoplay também. Foi uma série feita no Ceará, em Fortaleza, com meus amigos atores. Então, foi uma experiência muito boa de ser vivida. Eu estou com uma ótima expectativa com essa. Acho que está bem bonita.