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Profissão doula: qual o papel da profissional no trabalho de parto, parto e pós-parto?

30 jul 2021 | Lifestyle

Por Jacqueline Nóbrega

A doula é a profissional que se dedica em auxiliar mulheres grávidas, fornecendo suporte emocional, psicológico, fisiológico e educacional (Foto: Arquivo pessoal)

Você já ouviu falar na doula? Talvez se você estiver grávida ou com planos de engravidar, sim! Ainda assim, não se surpreenda se o termo for uma novidade para você. A doula é a profissional que se dedica em auxiliar mulheres grávidas, fornecendo suporte emocional, psicológico, fisiológico e educacional, não apenas durante o parto, mas em todo o período de gestação e no pós-parto, segundo o site Doula Brasil.

LEIA MAIS >> Ginecologista obstetra, Sabrina Forte defende o papel da doula no parto: ‘Peça chave’

Entre as tantas funções atribuídas à doula, vale destacar o trabalho de preparação emocional com o casal e o auxílio na elaboração do plano de parto, antes do grande dia. Além do apoio afetivo, durante o parto, a profissional pode prestar assistência com massagens que minimizem a dor, se certificar que o obstetra siga o plano traçado pela mulher, alertar para eventuais episódios de violência obstétrica, rotacionar o bebê quando necessário e ainda utilizar técnicas de relaxamento e aromaterapia para ajudar no desconforto, entre outros exemplos.

No pós-parto, a doula auxilia no início do processo de lactação, na pega da amamentação e mantém um olhar atento à puérpera, de forma a acompanhar casos de depressão puerperal, baby blues ou, simplesmente, certificando-se que tudo corre bem.

A ginecologista e obstetra Sabrina Forte diz que a doula tem papel fundamental no parto. “Desde 2013, as doulas são permitidas nos hospitais e não são consideradas acompanhantes. Às vezes, as pacientes me dizem: ‘Sabrina eu não tenho como investir numa equipe obstétrica’, mas sempre aconselho que ela invista em uma doula. Eu vejo a doula como uma peça-chave”. No Brasil, apesar das muitas profissionais que atuam na área, ser doula ainda não é profissão, como acontece nos Estados Unidos, por exemplo.

“Somos consideradas uma ocupação”, explica a doula Yasmin Farias. “É um processo. É uma profissão relativamente nova, que está ganhando espaço no mercado, se desenvolvendo e há muitas questões a serem pensadas. As coisas vão acontecendo pouco a pouco. Eu sou tranquila com isso, porque acredito que em breve nós vamos ter mais possibilidades de representação e de espaço como profissão”, comenta.

Yasmin reforça que ter uma doula no parto é um direito da mulher (Foto: Arquivo pessoal)

Yasmim iniciou o trabalho como doula em 2016, logo após fazer um curso de formação. Ela, que sempre quis ser mãe, ao ver postagens de uma colega enfermeira-obstetra sobre doulagem, sentiu um “chamado” para se aprofundar na área. “Se eu quero isso para mim, talvez possa proporcionar isso para outras mulheres até lá”, pensou. “Desde 2016, não parei mais de atuar, e virou minha função principal. Finalizei a faculdade em ciências contábeis, mas nunca trabalhei com outra coisa. Me encontrei nessa profissão”.

Para quem quer uma doula acompanhando a gestação, o valor médio é de R$ 1,1 mil. Yasmim conta que algumas pessoas ainda pensam nas doulas como mulheres que se colocam voluntariamente nesse lugar de apoio a outras mulheres. No entanto, ser doula exige formação, como qualquer outro ofício, e por isso também depende de um investimento da gestante. “Tem investimento de tempo, estudo, dedicação. É um trabalho árduo, sem horário fixo, sem saber que horas vai ter que sair, sem saber que horas volta para casa. Então, sim, existe um investimento. Como não temos um órgão que regulamente isso, você pode encontrar um valor bem menor ou um valor bem maior. Vai depender do critério de cada uma”, reforça.

Ter uma doula é um direito

Apesar de a profissão ainda não ter regulamentação, Yasmin explica, ainda, que o Ceará tem o Estatuto do Parto Humanizado, onde diz que a mulher tem direito de receber apoio físico e emocional da doula durante o trabalho de parto, parto e pós-parto sempre que ela solicitar e que a presença da profissional deve ser considerada independente da presença do acompanhante.

No entanto, nem sempre é essa a realidade nos centros de maternidade em Fortaleza. Ela explica que, por enquanto, as doulas têm uma relação mais acolhedora nos hospitais particulares da cidade. “A entrada é um pouco mais tranquila, mas nos públicos não. O único hospital que tem um fluxo para entrada de doula é a Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Nos outros hospitais, a regra é que doula não entra. Nós entendemos que existem muitas questões estruturais no SUS, muitas barreiras. Mas também entendemos ser muito importante garantir esse suporte. É uma luta nossa, das gestantes, é um processo que temos que superar e talvez um dos grandes desafios é que constamos no estatuto, mas não temos uma lei própria. Outros estados conseguiram resolver um pouco mais essa questão sancionando uma Lei da Doula. É uma das coisas que tentamos no Ceará”.

A reportagem procurou a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) a respeito das limitações do acesso nos hospitais públicos do Ceará, e a Sesa informou que “devido à pandemia da Covid-19, o acesso da doula nas unidades de saúde está restrito”.

Yasmin Farias concluiu uma graduação, mas sentiu um chamado para ser doula (Foto: Arquivo pessoal)

Yasmin ainda reforça que como o papel da doula é o suporte à gestante, a profissional pode auxiliar em qualquer tipo de parto, seja vaginal ou cesárea, quebrando a ideia de que seja uma possibilidade apenas nos partos humanizados. “A nossa atuação não tem a ver por onde o bebê vai sair, está muito mais relacionada às demandas daquela mulher, como ela vai viver aquele processo e lidar com tudo aquilo”.

Ser doula é um dom

Alyne Geórgia, mais conhecida como Tia Alyne Doula, não conhecia a profissão de doula, mas acabou assumindo esse papel para uma prima sem saber. “Fui acompanhar uma prima que ia ter bebê no hospital, e eu cuidei dela. Ajudei no processo e tudo. E uma pessoa me perguntou: você é doula? Aí fui pesquisar o que era isso, e me apaixonei. Vi que eu já exercia esse dom, sem ter o curso de formação”.

Tia Alyne se encontrou na profissão de doula (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar da formação em direito, ela só descobriu profissionalmente quando passou a atuar como doula. “E eu virei Tia Alyne porque sou tia de sete, ainda não sou mãe, e todo mundo já me chamava de Tia Alyne. Como doula é aquela profissional que serve, que cuida, então não teria outro nome mais apropriado”.

Ainda que seja um movimento crescente, Alyne reforça que as doulas ainda têm muito que conquistar. No entanto, percebe que as mulheres estão cada vez mais em busca de conhecimento. “Eu sempre costumo dizer que o parto é da família, não é da médica, não é do hospital. Muitas mulheres chegam até mim e questionam: eu poderia pedir isso? E elas têm direito. É importante essa busca por conhecimento, humanização, por uma equipe que lhe passe segurança e confiança”. 

Ser doula é a única fonte de renda da profissional, que também é consultora de amamentação. O valor depende do pacote que o casal fechar com a profissional. “No meu caso, o pacote varia entre R$ 1,1 a R$1,7 mil”.

Durante o pico da pandemia em Fortaleza, as doulas não puderam acompanhar os partos presencialmente, e tiveram que se reinventar. Alyne também fez da internet uma aliada na hora de continuar atendendo as família. “Fazia encontros online, acompanhamento do parto via chamada de vídeo para essas minhas clientes que estavam no hospital… Hoje já voltou ao normal na maioria dos hospitais. Somos bem recebidas”, diz, embora reforce ainda existir resistência.

“Infelizmente, ainda existe muito preconceito, dos médicos e enfermeiros, quando não conhecem o trabalho da doula. Mas quando conhecem e acolhem a doula, tudo flui melhor. É algo que faz a diferença. A mulher se sente mais segura e confiante”.

Apoio fundamental

Renata Maia é uma das mães que teve uma doula acompanhando o parto do filho, Pedro. Ela conheceu a Tia Alyne durante a participação em uma roda de gestantes quando ainda estava no início da gravidez. Renata e a irmã, Roberta, que engravidou no mesmo período que ela, logo a contrataram como doula. Durante a gestação, ela explica que o conhecimento da profissional foi fundamental. “Nos encontramos algumas vezes antes do parto. Todas as minhas dúvidas, eu recorri a ela. A Tia Alyne mandava muitos textos, vídeos falando sobre o parto… Eu sempre quis parto natural e a minha irmã também, porém as nossas obstetras eram diferentes e a minha sempre me apoiou, mas a da Roberta sempre defendeu o parto cesárea. A Tia Alyne apoia os dois partos com o maior amor do mundo. Porém, ela muniu a gente de informação sobre as via de parto. A Tia Alyne realmente foi um presente de Deus em nossas vidas”.

No dia do parto, Renata conta que já chegou ao hospital acompanhada da doula. Antes mesmo do Pedro nascer, Alyne fez massagens e tudo que podia para tranquilizar a mãe de primeira viagem. “Durante todo o meu parto ela esteve comigo, entrou na sala. Ficou no hospital os dois dias, ia e voltava. E depois do parto manteve ainda contato para saber se estava tudo bem, perguntar se a gente tinha uma dúvida, estava sempre disponível”. 

Renata Maia com a irmã e a Tia Alyne, doula escolhida pela dupla (Foto: Arquivo pessoal)

A mãe defende que ter uma doula faz toda a diferença. “Antes, durante e pós-parto. Não tem força e apoio maior, além do seu marido. A doula entra junto com você nessa, apoia e graças a Deus deu tudo certo no meu. A Tia Alyne é uma pessoa muito espiritualizada, não tenho nem palavras para falar… Ter uma doula faz toda a diferença. A minha experiência com o parto normal foi mais que maravilhoso, foi infinitamente perfeito, mas eu tive o apoio de uma profissional”.

Formação

Como não existe regulamentação, quem quer se tornar doula pode ter formação de duas formas: através de um curso, que varia carga horário e formato, ou mentoria. Em Fortaleza, o espaço de apoio à maternidade “Mãe do Corpo” oferece o curso de formação desde 2014 para turmas anuais com carga horário de 40 horas. Desde então, o espaço já formou mais de 160 profissionais, e recebeu inclusive interessadas de outro estados. O próximo curso acontece de 26 a 29 de agosto e o valor do investimento é de R$ 970. Para se inscrever, clique aqui.

“A nossa equipe é multiprofissional, formada por enfermeiras-obstetras, psicólogas e doulas. Todas experientes e capacitadas, com 5 a 10 anos de atuação na área”, explica Semírames Ávila, enfermeira-obstetra e coordenadora do Mãe do Corpo.

“Nesse curso, reforçamos a importância do parto natural, o problema das cesarianas desnecessárias e as questões relativas à excessiva medicalização do parto e nascimento. Acreditamos e reforçamos durante todo o curso que o parto normal, com o menor número de intervenções possível, é a melhor opção para a maioria das mulheres. O conteúdo passado é baseado nas recomendações da Organização Mundial da Saúde e na Medicina Baseada em Evidências”, ressalta.

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