7 ago 2024 | Moda
O que determina o surgimento de uma nova tendência de moda? As mídias e as redes sociais possuem um grande peso para estabelecer o que vai ficar nos holofotes ou nos trends topics. É como se a moda e a internet tivessem passado a andar de mãos dadas. Não que uma necessariamente precise da outra, mas ambas parecem se fortalecer e funcionar melhor juntas – e a geração Z contribui para esse fortalecimento.
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A Plataforma MT conversou com a designer e especialista em moda Thaís Grangeiro para falar sobre o assunto. “As tendências de moda são influenciadas por uma combinação de fatores socioculturais, econômicos e tecnológicos. Gosto de destacar a cultura pop, as mídias e as redes sociais, pois através de filmes, séries de TV, celebridades e influenciadores digitais, grandes impactos podem surgir na moda”, pontua.
A entrevistada, que atua como consultora de imagem e estilo no Studio Degradê, explica que fatores históricos também podem influenciar diretamente na moda, já que tendências que já estiveram em alta podem retomar com força total, a exemplo da calça de cintura baixa ou da sapatilha. “Isso pode ser influenciado por ciclos de moda que tendem a ressurgir a cada 20-30 anos”, explica.
Conforme observado pela designer, eventos econômicos e políticos também podem influenciar na moda. “[Eles] trazem necessidades únicas para o momento da moda que estamos passando. Por exemplo, períodos de austeridade podem levar a estilos mais simples e funcionais, enquanto épocas de prosperidade podem incentivar designs mais extravagantes”, completa.
Ainda que todos os fatores anteriormente citados sejam importantes para determinar o que vira ou não tendência no universo da moda, o maior destaque nos dias atuais, sem dúvidas, é voltado para a atuação das redes sociais, sobretudo plataformas como TikTok e Instagram. Por essa razão, Thaís acredita que deve existir um diálogo e um equilíbrio entre marcas e redes sociais.
“Ao mesmo tempo que uma marca pode se inspirar em comportamentos que estão em alta nas redes sociais, ela também pode usar as redes como vitrine para o aumento da visibilidade e gerar desejo pelos seus produtos. É um ciclo simbiótico, onde as marcas e as redes sociais vivem e trabalham em conjunto, um grande mecanismo de troca de referências”, pontua a especialista.
Um exemplo prático de extremo destaque nas redes socias foi o lançamento da marca Mondepars, de Sasha Meneghel, no início de junho deste ano – que ilustrou a abertura desta matéria. O momento, que aconteceu em São Paulo, foi super propagado por meio das redes sociais e em sites de notícias, tornando uma nova tendência surgir na internet usando itens que mostrassem o logotipo da marca.
Apesar do papel importante desempenhado pelas redes, a designer acredita que a demasia delas para a moda também pode ser prejudicial. “O excesso da criação de novas tendências através das redes sociais atrapalha a maneira como lidamos com elas na vida real. A moda está o tempo inteiro evoluindo e se atualizando, as redes sociais aumentaram a velocidade com que isso acontece”, explica.
Mesmo que essa rapidez seja boa para a moda, uma vez que cria um cenário onde a criatividade ganha mais força e se torna a melhor ferramenta, é ruim para o consumidor, já que abre espaço para a constante exposição a novas tendências. O exagero, segundo Thaís, pode gerar ansiedade e pressão social de aceitação a qualquer custo devido a expectativas intensas criadas pelo que está em alta.
Indo contra o comportamento massivo de se apoiar na internet para lançar novas tendências ou estar no hype, algumas marcas optam por propagação e reconhecimento orgânicos, de forma a humanizar sua relação com o público ao se retirar das redes sociais. É o caso da Bottega Veneta, que foi pioneira em viver um “apagão digital” ao excluir todas as suas redes sociais em 2021.
“A Bottega Veneta mudou sua estratégia e, ao invés de simplesmente mostrar seus produtos na mídia, eles preferiram se apoiar mais em seus embaixadores e consumidores, deixando que eles possam falar da marca em seus perfis. Isso fez com que o consumidor passasse a mostrar seus produtos e, assim, a marca se aproximasse mais de outros consumidores interessados”, explica Thaís.
Segundo a especialista, não é à toa que o Conteúdo Gerado pelo Usuário (UGC) tem se mostrado uma ferramenta poderosa para o marketing digital. “Ao visualizar um conteúdo criado por outra pessoa, potenciais clientes sentem-se mais seguros e inclinados a confiar naquela informação. E a Bottega Veneta, assim como outras marcas, tem se apoiado nesse tipo de marketing mais humano e genuíno”, completa.
Embora o “apagão digital” da Bottega Venetta tenha sido significativo, se retirar das redes é um ato que parece só fazer sentido para grandes marcas já alicerçadas no universo da moda. Para quem deseja se introduzir com algo novo, Thaís pontua que o uso das redes se torna extremamente necessário para criar uma vitrine online e fidelizar um público alvo que vai ser responsável por manter a rentabilidade da marca.
“Hoje em dia, se você cria uma empresa de moda, a primeira coisa que você faz é criar um perfil para ela nas redes sociais. Quando o consumidor vai procurar informações sobre a empresa, a primeira coisa que ele faz é entrar nas redes sociais. Então, é um ciclo onde a internet desempenha vários papéis essenciais, ela funciona como vitrine, ferramenta de marketing, geradora de novos clientes etc”, finaliza a especialista.