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Beatrice Melo escolheu fazer doutorado no Japão e estudar moda sustentável; conheça a história da cearense

18 fev 2019 | Notícias

Por Lucas Magno

Após morar em países como Alemanha, Inglaterra e Portugal, a cearense Beatrice Melo realiza o sonho de estudar no Japão. Ela sempre buscou informações sobre os elementos da história, moda e cultura daquele país tão distante e tão diferente do nosso, mas foi em 2017 que aplicou para o PhD em Estudos Globais, na Sophia University, em Tóquio, e finalmente conseguiu o que queria.

Parte da entrevista foi veiculada domingo (17), no Diário do Nordeste. Confira o material na íntegra:

Você já estudou em alguns lugares do mundo, e agora está em Tóquio. Está fazendo doutorado no Japão, né? Conta um pouquinho dessa experiência!

Sempre sonhei em poder morar no Japão, mas acreditava que existiria um momento adequado para a experiência. Por este motivo, buscava por informações sobre os elementos da história, moda e cultura deste país tão distante e tão diferente do nosso. Em 2017, apliquei para o PhD em “Global Studies” (Estudos Globais) na Sophia University (上智大学, Jōchi Daigaku) em Tóquio. Enviei minha proposta de pesquisa para a universidade, apresentei-a a uma banca de jurados (especialistas em Políticas Globais, Direitos Humanos e Estudos Ambientais) por vídeo conferência, providenciei diversos outros documentos requeridos pela instituição e acabei sendo premiada com uma bolsa de estudos e assistência financeira do governo japonês.

Já falava o idioma? Como foi a adaptação?

Cheguei ao Japão na primavera do ano passado e fui encantadoramente recebida pelas belas flores de cerejeira. Por razão dos meus estudos e projetos em moda e figurino de teatro, tive a oportunidade de morar em países como Inglaterra, Alemanha, Portugal, entretanto, esta foi minha primeira experiência no continente asiático. A vida em Tóquio é bem intensa, carga horária de 12 horas de trabalho por dia e, dependendo da urgência e relevância do assunto, são necessárias algumas noites em claro. Como os japoneses não têm costume de falar em inglês algumas dificuldades foram enfrentadas no início por conta da língua. Contudo, as vivências em outros países junto ao fato de eu me identificar com a cultura e respeitar os costumes japoneses contribuíram para uma rápida adaptação. Diariamente cumprimento meus vizinhos e conhecidos, ajudo em serviços em prol da comunidade, sou convidada para eventos do bairro; interações estas que tornam cada momento enriquecedor.

Qual o assunto do seu doutorado? É dentro do segmento da moda?

Quanto à vida acadêmica, escolhi os Estudos Globais por se tratar de uma visão interdisciplinar para a análise dos fenômenos da atualidade com o propósito de interpretar dos impactos da globalização. Há 8 anos atrás comecei uma relação com a sustentabilidade através do meu mestrado em “Sustainability in Fashion” (Sustentabilidade na Moda) na Esmod em Berlim. Antes disso, questionava-me quanto às práticas desta indústria e sobre a importância de uma moda rápida e barata (“fast fashion”). Durante o mestrado, meu foco estava na área criativa da moda, no conhecimento de materiais tecnológicos, orgânicos, “upcycled” (reciclados de modo a melhorar a qualidade do material), no “slow fashion” (“moda lenta”, artesanal, feito a mão) e marketing sustentável. Ao voltar para o Brasil, junto de amigos queridos e profissionais das áreas de Administração, Psicologia, Ciências Políticas e Sociais montamos o Instituto Felipe Martins de Melo. O instituto surgiu com objetivo de perpetuar a memória do meu irmão através de valores jovens por ele transmitidos. Desta forma, nossa missão era proporcionar um ambiente para o desenvolvimento humano, profissional, pessoal e social de jovens universitários por meio de um programa educacional que incluiria ferramentas para o empreendedorismo social, planejamento de vida e ações de voluntariado. Após 5 anos auxiliando neste projeto, oferecendo oficinas em comunidades localizadas na periferia de Fortaleza e apresentando nossa metodologia em congressos na Europa, decidi que era o momento de voltar a minha busca por soluções para as desigualdades geradas pela indústria da moda. O título da minha tese propõe um “Design multidimensional e interdependente da cadeia de valor de empresas transnacionais de moda para uma competitividade global sustentável”. Na construção deste design sustentável, considero a transdisciplinariedade de áreas aparentemente distintas como: estudos ambientais, sociais, políticos, culturais, antropológicos, econômicos. A partir da construção de uma perspectiva própria em relação ao conceito de desenvolvimento, pretendo apresentar uma proposta sustentável para as ações realizadas na cadeia de valor da moda. A localização do Japão me coloca próxima ao Sudeste Asiático, onde são extraídos recursos e manufaturados os produtos a serem vendidos ao redor do mundo. Além disso, tenho dado assistência aos professores da cadeira Imigração e Co-existência, abordado temas como: “Trade and Inequality” (Comércio e Desigualdade) e “Migration and Development” (Imigração e Desenvolvimento). Neste trabalho tive abertura para lecionar apresentando um estudo de caso da Indústria Têxtil e de Moda e as desigualdades geradas na sua cadeia de produção. Também colaborei na organização de atividades que pudessem oferecer ferramentas para os alunos criarem novas políticas em prol da diminuição destas injustiças proporcionadas pela produção global. Foi recompensador ver a transformação no modo de pensar e as iniciativas concebidas pelos alunos da graduação. Ademais, publiquei recentemente um artigo intitulado “A perspective towards a circular fashion design system” no livro Reverse Design (2019), onde menciono a possibilidade de uma Moda Circular através da aplicação da Economia Circular na Moda e na necessidade de uma integração mais eficaz das dimensões sociais e culturais para processos verdadeiramente sustentáveis.

Em Fortaleza você atuava como figurinista… continua desenvolvendo figurinos à distância?

Por muitos anos trabalhei junto ao Diretor de Teatro Musical André Gress (The BIZ – Escola de Artes) e o Produtor Allan Deberton (Deberton Entretenimento) na criação e produção de figurinos para teatro musical. Na convivência com estes incríveis profissionais, durante a realização de figurinos para o “Broadway Brasil” e “Avenida Q”, conheci outros grandes nomes do teatro musical nacional e internacional. Nosso trabalho mais recente foi “A Hora da Estrela”, um musical autoral em homenagem aos 40 anos da obra de Clarice Lispector. Como na ocasião estava fazendo um Doutorado em Design de Moda em Portugal, o figurino foi realizado por meio de um processo criativo online para possibilitar as reuniões, escolha de materiais e monitoramento da confecção. O resultado final ficou lindo, a composição do espaço junto ao cenário, som, iluminação e atuação tornou o esforço recompensador. Contudo, a decisão de morar no Japão impossibilitou temporariamente a continuidade de projetos presenciais; afinal, para a criação do vestuário em cena, o figurinista precisa compreender a verdade que o ator deseja transmitir. A roupa deve funcionar como facilitadora desta comunicação entre o personagem e o espectador.

Quais seus planos para o futuro?

Meu plano atual é permanecer por mais alguns anos no Japão com o propósito de concluir minha tese do doutorado, conhecer outras culturas, aprender cada vez mais sobre as questões políticas e econômicas que estão envolvidas na cadeira de valor da moda e disseminar os caminhos para uma moda sustentável – ou pelo menos práticas éticas para um consumo consciente. Neste ano fui convidada a desenvolver o currículo para uma Escola de Moda Sustentável em Tokyo, junto à um showroom de moda orgânica e “fair trade” (comércio justo). Estou muito feliz com esta agenda lotada, destinando momentos a densa literatura do PhD e aos artigos a serem finalizados, bem como ao planejamento e execução de seminários e workshops de Moda Sustentável.

Matéria veiculada no Diário do Nordeste:

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