29 abr 2016 | Notícias
Foi nessas andanças aleatórias do olhar que Lindebergue Fernandes, certo dia, descobriu que certo Virgulino Ferreira, de alcunha Lampião, tinha como ícone de vida e de estilo um imperador francês, de tempos passados, chamado Napoleão Bonaparte, e essa fora a “eureca” da coleção que o cearense apresenta no DFB 2016. Pelas veredas imaginárias que levaram o mitológico cangaceiro da caatinga aos salões imperiais da França pós-revolução, o estilista descobriu analogias a elementos andróginos do vestir, adotados de forma inocente e orgânica.
A proposta é fazer jogos de mitos entre o passado e o futuro, traduzindo-se nas silhuetas em neoprene que estilizam os gibões dos vaqueiros e desconstroem a aridez do vestuário do cangaço. A mistura entre aspectos da década de 1970, de sua infância, e o DNA street que tanto marca seu trabalho como designer comercial revela a forma com que ele se apropria de referências, como grupos do skate e dos pichadores, como se os membros desses grupos fossem os novos cangaceiros das grandes metrópoles.
O estilista conta que “Lampião está lá, no sopro inicial da coleção, mas de forma quase espiritual. Não espere fantasia de cangaceiro e de Maria Bonita. A ideia era ir além, colocando o cangaço como palco de resistência e luta. O importante é apresentar uma narrativa capaz de refletir o Brasil em que vivo. E é esse país com nervos expostos, instável, dividido, que se revela nessa coleção. É árido, ferido, mas tem uma esperança imbatível”.
O desfile conta com uma novidade: além do neoprene, que ganha desgastes e bordados de pedrarias, Lindebergue utiliza sarjas da Vicunha com aspecto urbano e leve perfume romântico, presente nos artigos Ramsay, Trubel, Coyote (nas cores verde e telha) e Rocker Navy resinado, claro, reafirmando sua história de amor com o feito à mão. Lindebergue convidou o Betina Gauche Atelier de Patchwork para desenvolver peças criadas a partir do reaproveitamento de tecidos 100% algodão. A equipe da professora Betina atuou como cocriadora das padronagens, com total liberdade do estilista, que utilizou sobras de tecidos das fábricas nas quais trabalha.
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