6 ago 2022 | Moda
Diferente do método sazonal, que é baseado em estações do ano, as cartelas para pele negra são inspiradas na ancestralidade africana
Por Izabel Tinin*
As cores podem ser grandes aliadas na hora de ajudar a transmitir a imagem que desejamos. Para fazer isso de forma mais assertiva, muitas pessoas acabam recorrendo à colorimetria, análise que ajuda a descobrir quais tons nos favorecem mais. Porém, o que muita gente não sabe é que existem métodos diferentes para a pele negra e para a pele branca.
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A consultora de Imagem Pessoal e faceteller especializada em coloração pessoal para pele negra, Bruna Stefani, conta que, devido à miscigenação, existem muitos tons de pele negra – e só tende a aumentar -, e, por isso, existe um método particular de avaliação.
Bruna explica que a análise para pele negra é feita com com variações de tons de vermelho, por já ser um tom naturalmente presente em peles mais escuras. Enquanto a análise convencional é feita com uma gama maior de cores.
Diferente das cartelas de pele branca, que são sazonais e classificadas por estações do ano (primavera, verão, outono e inverno), as cartelas do Vestillo – método usado por Bruna na análise das clientes – são inspiradas na ancestralidade africana. A variedade de cores é classificada da seguinte forma:
Bruna conta que o método Vestillo surgiu a partir do livro “Color to Color”, lançado em 1991 por Jean Patton, que, na época, já estimava existir cerca de 38 tons de pele negra, divididos em seis grupos que deram origem as cartelas.
Entretanto, a consultora de imagem pessoal defende que cada pessoa escolha a análise que se sentir mais confortável, desde que se entenda o sentido de cada uma. “É muito bom evitar comparações e adaptações de cartelas que não correspondam ao tom de pele negra, pois cada uma tem sua particularidade”, diz.
Antes mesmo de se dedicar ao segmento, Bruna lembra que ficava inquieta e insatisfeita com a limitação da cartela sazonal para analisar a beleza negra. “A make, que, para mim, é uma parte super importante durante a consultoria de cores, por estar no centro do rosto e por envolver muito questões de autoestima, era uma parte que o conhecimento sazonal não alcançava porque ele não abordava todas as particularidades das inúmeras tonalidades diferentes de pele negra”, lembra.
A profissional conta que muitas clientes chegam com a queixa de não saberem usar cores e preferirem tons neutros, problema diretamente influenciado pelo mito de que mulheres negras não combinam com cores mais fortes.
Quando isso acontece, o conselho de Bruna é inserir cores aos poucos, usando um tom mais vibrante em dias de que se acorda mais desanimada, ou até mesmo passar um batom vermelho para uma reunião, por exemplo.
A consultora de imagem cita, ainda, a importância das cores para favorecer a beleza, replicando os tons que cada um já tem na pele, cabelo e olhos.
Antes de conhecer a coloração pessoal, a própria Bruna Stefani, por exemplo, não gostava de usar marrom. “Quando me permiti descobrir as cores e experimentar o marrom, me apaixonei e entendi que existem estereótipos enraizados até no uso das cores. Como pode o tom da minha pele, a minha cor natural ser feia?! Hoje se tornou minha cor preferida, além de achar o marrom super chique”, revela.
Bruna defende que a coloração pessoal ajuda a trazer autoconhecimento e autopercepção e leva, ainda, a fazer compras mais assertivas, evitando consumir por impulso ou apenas para seguir tendências que não favorecem a beleza de cada pessoa.
“Meu propósito na consultoria de imagem é demostrar que todos nos somos únicos no mundo e esse é o poder de cada um”, atesta Bruna, que decidiu se especializar em pele negra para contribuir no processo em que outras meninas negras, por uma questão estrutural e pela falta de representatividade, ainda não reconhecem as próprias belezas e valores.
*Sob a supervisão de Jéssica Colaço