8 abr 2019 | Lifestyle
A cearense Julia Andrade decidiu seguir a carreira de psicóloga após passar por três experiências de vida que considerou especiais: dançar por anos balé, inclusive em Santa Catarina, na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, sua ligação com a literatura e participar de ações sociais durante a infância, por influência dos pais.
Confira entrevista com a profissional na íntegra:
É interessante essa pergunta sobre a influência de alguém, pois em minha família não há nenhum psicólogo! No entanto, há três experiências de vida que foram decisivas em minha escolha: A educação dos meus pais, a experiência no universo do balé e o hábito da leitura. Desde pequena dancei balé. Através dessa paixão, aos onze anos fui para Santa Catarina dançar na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, na qual permaneci durante 4 anos. Em seguida, fui para o Rio de Janeiro para integrar a Companhia Brasileira de Ballet. Durante esses 5 anos, dancei com crianças e jovens de diversos estados e países. Percebia que cada pessoa tinha uma educação e cultura diferentes da minha, e essa diversidade me encantava, me deixava curiosa na tentativa de compreender as diferenças no pensar, no comportar-se e nos valores. Creio que a semente do que se tornaria a decisão de cursar Psicologia está nesse momento de minha vida. Outra influência importante foi o fato de meus pais levarem eu e meu irmão para ações de engajamento social desde a tenra idade: visitávamos abrigos, hospitais e institutos de apoio a crianças em vulnerabilidade social. Através dessas experiências fui entrando em contato com diferentes realidades, e o sofrimento dos outros gerava em mim um desejo de envolver-me e ajudar. Por fim, a literatura nos abre para o mundo das possibilidades; a fantasia, os contos, as histórias transmitem verdades sobre o ser humano que me inclinaram ainda mais a buscar um curso que abordasse a vida humana, suas alegrias, sofrimentos e contradições. A psicologia surgiu, então, como um curso onde eu poderia servir, colaborar com a sociedade através do contato pessoal e genuíno, além de sanar essa sede de conhecimento de compreender a vida humana.
Há um tempo oriento pais e mães no setting terapêutico. Percebi não só pelos relatos das famílias que acompanho, mas também pelas pessoas ao meu entorno, os desafios e inseguranças próprias do exercício da paternidade e maternidade. Estamos inseridos em uma cultura de que educar se faz no instinto, de que os papeis de pai e mãe acontecem naturalmente com o nascimento de um filho. Mas a realidade demonstra que isso é um mito. Educar é um dos maiores desafios na vida, formar um ser humano é uma verdadeira missão. Os filhos crescem e a infância é uma etapa decisiva do desenvolvimento humano.
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Um dia, de forma súbita, me veio a mente uma percepção: estudamos durante toda nossa vida exercer uma profissão, por que também não podemos estudar e profissionalizar-nos para o exercício de uma parentalidade segura? Foi aí que surgiu a ideia do grupo de estudos em parentalidade e educação de Filhos; um espaço para troca de experiências, aprendizados e amadurecimento. Inicialmente, formei um primeiro grupo somente com pessoas conhecidas. A experiência foi tão positiva que decidi expandir e iniciar outra turma, dessa vez aberta ao público em geral. Nos Estados Unidos há diversos cursos e grupos nesse sentido, e o meu desejo é trazer essa mentalidade para cá também. O grupo reúne-se quinzenalmente, e cada mês discutimos um livro da bibliografia elaborada por mim. No mês de abril, por exemplo, discutiremos o livro “Educar na Curiosidade” de Catherine L’Ecuyer. Os encontros são dirigidos, de forma a aprofundar temáticas relacionadas à infância e adolescência, trazer exemplos da vida real com os filhos e crianças, além de apontar estratégias adequadas para uma educação eficaz. Para educar, precisamos conhecer as crianças. Sem entendê-las, não conseguimos acessá-las e realmente nos conectar com elas. O objetivo do grupo é transmitir conhecimentos de qualidade e orientações práticas para uma educação e parentalidade mais confiante e saudável tanto para os pais como para os filhos. Quem desejar participar, as inscrições são feitas através do contato: (85) 99998.8189 ou e-mail: [email protected]
Verdade! Decidi deixar o grupo aberto para todas as pessoas que se interessassem pela temática. Creio que a diversidade traz riqueza de experiências e perspectivas. Isso torna o grupo mais alegre, dinâmico e divertido. Sabemos que o ser humano é multidimensional, portanto, ter profissionais de diferentes áreas do saber, mães e também estudantes agrega muito ao grupo.
Sim. Em breve, no primeiro semestre de 2019, estarei lançando um workshop sobre os temperamentos na relação entre pais e filhos. Esse é um conhecimento pouco disseminado em nosso País, e de fundamental importância para uma relação e educação saudável dos filhos. A abordagem e a forma de motivar os filhos varia de acordo com o temperamento que possuem. Não há uma fórmula pronta e padrão para todas as crianças. Ao contrário, há variantes nesse processo e o temperamento é um deles. Entender o temperamento dos pais e dos filhos é uma forma valorosa de construir um vínculo poderoso entre as diferentes gerações.