16 abr 2025 | Living
O Salão Internacional do Móvel teve sua primeira edição em 1961, idealizado para ser um vetor de promoção e exportação da indústria moveleira italiana. Logo se tornou o principal evento do setor atraindo visitantes de todo o mundo para uma semana de lançamentos, negócios e principalmente encontros.
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Já o Fuorisalone, meu queridinho, é o conjunto de eventos, exposições e instalações que acontecem paralelamente ao Salone del Mobile (a feira principal), espalhados por diversos bairros de Milão. Enquanto o Salone é realizado no centro de exposições Fiera Milano e concentra as marcas consagradas do setor de mobiliário e design, este evento paralelo transforma a cidade inteira em um verdadeiro palco de criatividade, experimentação e arte.
Durante 7 dias, lojas, showrooms, galerias, museus, universidades e até espaços públicos se transformam em ambientes expositivos. As ruas de bairros como Brera, Tortona, Isola, Lambrate e outros ficam tomadas por visitantes em busca das experiências abertas ao público e gratuitas, algumas com o ônus de enfrentar grandes filas – inevitável em um evento de tal porte!
Eu particularmente prefiro evitar as exposições das marcas mais badaladas e me perder pelas ruas fazendo meus “achados” de maneira mais intuitiva. Nas pequenas galerias, muitas vezes tenho a oportunidade de conhecer pessoalmente e ainda trocar uma ideia com os autores dos projetos -considero esta possibilidade de contato direto, a parte mais especial de estar em Milão na semana da feira.
Hoje, com tanto acesso a informação, de certa maneira eu poderia me atualizar à distância quanto aos lançamentos das grandes marcas, mas é na vivência que tenho na rua me conectando ao movimento mais realista e “independente” – com propostas mais ousadas, experimentais e conceituais. É através desses projetos de jovens designers, coletivos e universitários (que ainda não estão no circuito comercial tradicional), que consigo formular as minhas impressões sobre o que há realmente de novo e por quais caminhos devo seguir se tenho o propósito de uma atuação profissional e pessoal relevante.
Em resumo, o Fuorisalone é o lado mais livre, artístico e urbano da Semana de Design de Milão. Ele complementa o Salone del Mobile e reforça a cidade como um polo global de inovação e cultura – é um ecossistema vibrante de ideias e possibilidades em que eu adoro mergulhar!
Este ano resolvi que minha pesquisa seria “observar mais as pessoas”, já que, assim como na arte, tudo o que começa e termina é sobre elas. Entendo que o design, quando bem feito, deve ficar nas pessoas como uma experiência. Mais do que algo visualmente agradável ou funcional, o design deve também provocar sensação e conexão. Ele pode inspirar, estimular, acolher, desafiar, facilitar ou emocionar – o bom design nunca é uma experiência oca, ele deve ser vivido.
Seja através de um espaço arquitetônico que convida ao encontro, de um móvel que abraça o corpo, de uma embalagem que surpreende ou de uma interação digital intuitiva. O design, assim como toda experiência humana, vale a pena quando impacta e permanece em nós como memória.
E falando nisso, acho importante destacar a presença do Brasil, e mais ainda do Nordeste, em exibições como a Chuva do Caju promovida pela APEX (na Universidad del studi de Milano) e a mostra Tropicalist (no hotel Bianca Maria) que encantaram a todos com a beleza, força e a singularidade da nossa cultura. Faço questão de enfatizar e reverberar a qualidade da nossa produção contemporânea.
Concluindo: volto para casa cheia de memórias, novos amigos e boas histórias, grata e consciente do privilégio que tenho por poder viver esses dias. Infelizmente, diferente do histórico do povo italiano, o bom design, assim como a arquitetura, o urbanismo e a arte – que são poderosas ferramentas de inclusão e bem-estar – não estão presentes no cotidiano da maioria da nossa população. Essa é uma realidade triste que nossa comunidade criativa precisa enfrentar e mudar através da união de esforços com as esferas do poder público.
Precisamos também da força da opinião pública para que esse entendido o tamanho da relevância desse pleito. Precisamos falar sobre como a negligência com a estética da paisagem e a poluição/violências sensoriais afetam a vida das pessoas.
Levo como aprendizado a consciência cada dia maior da necessidade de democratizarmos o design — como linguagem, como processo, como impacto. Porque, no fundo, ele só cumpre seu papel quando melhora a vida das pessoas. E melhor que seja de todas elas.
Brenda Rolim é formada em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal do Ceará, especialista em visual merchandising e retail design pelo Instituto Europeu de Design. Atual presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará, arquiteta apaixonada por design e se destaca por sua abordagem inovadora e consciente evidente em seus projetos. Acredita que a arquitetura deve refletir o espírito do tempo e a identidade dos seus usuários, promovendo bem-estar e conforto. Além de seu trabalho em projetos residenciais, hoteleiros e comerciais, também se envolve em iniciativas comunitárias, buscando sempre contribuir para um ambiente urbano mais agradável, acessível e justo.