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Cristina Quilombola fala sobre vivências de luta e preservação de tradições ancestrais

20 jun 2020 | Notícias

Por Tainã Maciel

Os quilombos, no passado, constituíram-se em locais de refúgio de escravos africanos e afrodescendentes. Eram lugares de alívio e proteção momentânea para pessoas negras tratadas como mercadorias. Anos se passaram e a “terra” que um dia cuidou das peles feridas pela escravidão, ainda acolhe seus filhos e filhas. Você sabia que existem quilombos no Ceará? O Site MT conversou com Cristina Quilombola, uma das líderes da comunidade Caetanos de Capuan, em Caucaia, sobre vivências de luta e preservação das tradições.

O Movimento Quilombola do Estado do Ceará reconhece 87 quilombos na região que se articulam na busca por direitos. Cristina é membro da Comissão Estadual dos Quilombos Rurais do Ceará (Cerquice) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Segundo ela, o reconhecimento das comunidades remanescentes parte, primeiramente, da autoidentificação. “A partir da nossa ancestralidade, luta e resistência dentro dos nossos territórios somos reconhecidos por essas instituições. Nos apropriamos do conhecimento de vida dos nossos antepassados e continuamos nessa caminhada”, diz.

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A história dos Caetanos começou em Uruburetama na época da seca em 1915. A família Caetanos era formada pelo casal Florêncio Caetanos da Costa e Cândida Gomes da Costa, e mais dois filhos e três filhas. Segundo relato da comunidade, o casal retirante partiu rumo à Fortaleza levando os filhos, em busca de melhores condições de sobrevivência, mas ficou “barrada” no caminho, permanecendo em Capuan. Os Caetanos estão atualmente na sexta geração e é composta por mais de 80 famílias.

Rica em ensinamentos, a cultura ancestral é renovada a cada dia dentro do quilombo. Em Caetanos, as práticas da agricultura, artesanato e culinária são passadas por gerações. Os festejos também não ficaram de fora dessa herança. “A gente tem a tradição do reisado, do bumba meu boi e da capoeira. Aqui também temos a tradição de rezarmos o rosário de Padre Cícero todo dia 20 do mês”, conta Cristina.

Apesar do forte sentimento de união dentro da comunidade, a luta não é fácil. A líder relata situações infelizes recorrentes e reforçadas para um negro quilombola. “Todo dia sofremos preconceito, principalmente o racismo estrutural. Quando nos identificamos como quilombolas não temos amparo. Por isso é importante ocuparmos os espaços falando sobre esses impactos e pessoas que adentram nossas terras ainda hoje”.


Racismo estrutural é a naturalização de ações, hábitos, situações, falas, pensamentos que fazem parte da vida cotidiana, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou preconceito racial. Um processo que atinge duramente e diariamente a população negra.


O número 87 que caracteriza a quantidade de quilombos no Ceará ainda é incerto, segundo Cristina. “Sabemos que existe ainda mais comunidades e temos que chegar nesse povo para associar as lutas que já foram conquistadas para que eles possam avançar junto conosco”.

Liderança feminina

Investir em conhecimento é essencial para o fortalecimento do “pertencer”. “Temos muitos projetos que se adequam às nossas realidades e estamos avançando. Aqui também sempre trabalhamos com a construção de conhecimento, estudos e contos, e somos acompanhados por antropólogos”, afirma.

Cristina Quilombola (Foto: Divulgação)

“Nossos quilombos sempre tiveram uma forte presença de mulheres negras, com fibra, que têm ideias e sabem desenvolvê-las”, diz Cristina Quilombola.

Cristina também abordou seu processo pessoal de identificação cultural. “A princípio, não queria ser uma líder, mas fui vendo o histórico, de onde eu vim, quem eu sou, para onde vou e o que eu quero ser. Isso tudo foi uma afirmação real do meu pertencimento ancestral por meio dos meus parentes que me iluminam. Agradeço ao meu povo e estamos aqui para lutar”, partilha.

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