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Por que ainda surpreende ver homens fazendo crochê?

4 ago 2021 | Notícias

Por Jacqueline Nóbrega

Repercutiu no fim de semana uma foto que mostra o atleta Tom Daley, que levou a medalha de ouro no salto sincronizado, tricotando na arquibancada enquanto acompanhava outra competição nas Olimpíadas de Tóquio, no domingo (1). 

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Ele, inclusive, tem um perfil dedicado às peças que cria de tricô e crochê com mais de 847 mil seguidores, o @madewithlovebytomdaley. Tom fez até uma espécie de capinha usando seus dotes para a medalha.

No Brasil, em 2017, Rodrigo Hilbert ganhou o apelido de “homão da porra” quando uma foto sua fazendo crochê viralizou na internet. A própria esposa do apresentador, Fernanda Lima, conta que duvidou da habilidade do marido. De fato, ainda é incomum ver homens com habilidades manuais, talvez por isso a surpresa em ver homens tricotando, fazendo crochê ou até bordando. 

Rodrigo Hilbert ganhou o apelido de “homão da porra” pelo fato de saber fazer crochê (Foto: Reprodução)

Germano Santos é bordadeiro na Canjerê Bordados e opina que essa surpresa é fruto da sociedade machista em que vivemos. 

“O bordado como outras artes manuais são vistos como coisa de mulher até hoje porque se enraizou na sociedade que essas atividades eram exclusivamente femininas. Lembrando que essas artes eram disciplinas escolares onde se educava a mulher para ser boa esposa, mãe e dona de casa.  Os tempos mudaram, mas ainda ainda é preciso avançar muito. Nos últimos anos vivemos um momento pavoroso de retrocessos”, lamenta. 

E reforça que a Cajerê é uma arte ativista. “Pelo terceiro ano consecutivo o troféu Elke Maravilha do Festival de Cinema e Cultura pela Diversidade Sexual e de Gênero – For Rainbow – é confeccionado por mim”.

Bordar é a principal fonte de renda de Germano Santos (Foto: Arquivo pessoal/Aldo Evangelista)

Germano considera suas habilidades manuais uma herança da família já que é neto, filho e sobrinho de costureira, que também dominavam artes como crochê, bordado, biscoito e afins. Como tem formação na área da educação, quando se tornou professor de crianças e jovens autistas, ele passou a desenvolver atividades manuais com o objetivo de proporcionar aos alunos condições de realizar atividades artísticas para em um futuro terem maior autonomia. “Trabalhava com eles a confecção de bijuterias e decoração de caixas em MDF usando a técnica da decoupage. Veio então meu afastamento da educação e executei outras atividades, por exemplo, fui vender dindin na rua. Foi então que através de um sonho com a Orixá, uma das deusas Ancestrais Africanas cultuada no Candomblé e outras religiões de matriz africana, que tive um direcionamento para o bordado”.

E assim nasceu a Cajerê, hoje a principal fonte de renda de Germano. A temática central dos bordados produzidos por ele é de cunho religioso e político. “Canjerê é uma palavra africana com vários significados: reunião de pessoas para comemorar a vida, reunião para encantamentos e magias, encontro ancestral ou energia dos encontros festivos… Me considero bordadeiro artevista, lutando diariamente contra a intolerância religiosa, desmistificando os estereótipos de que as religiões de matrizes africanas são demoníacas. Essa cultura possui uma identidade que envolve vários povos, identidades, línguas, expressões contribuíram para a formação do povo brasileiro”.

Os bordados de Germano se destacam, ainda, pelo volume, alto-relevo, diversidade de pontos e cores. “O bordado me escolheu e me nutre. É ele quem me aproxima de pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo. É o bordado que me faz entrar em conexão com a contemplação, do autoconhecimento, do tempo necessário para o processo que envolve dedicação, respeito pelo meu corpo… O bordado é vivo e eu o trato como uma divindade”.

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