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Da periferia de Fortaleza para a ONU: conheça a trajetória de Italo Alves

18 jan 2024 | Poder

Por Tainã Maciel

Cearense foi o único latino-americano selecionado por projeto da We Are Family Foundation para participar do Fórum Econômico de Davos, na Suíça

Nascido no Grande Bom Jardim e ex-aluno de escolas públicas, Italo trabalha como servidor no Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, em Brasília (Foto: Reprodução/Instagram)

“Eu sabia que a educação seria o fator transformador na minha vida”, é assim que Italo Ribeiro Alves responde quando perguntado sobre sua infância. Cearense nascido no Grande Bom Jardim, periferia de Fortaleza, é o único latino-americano selecionado pelo projeto da We Are Family Foundation para participar do Fórum Econômico de Davos, encontro com grandes líderes mundiais, que encerra nesta quinta-feira (18). Filho de uma professora e ex-aluno de escolas públicas, Italo encontrou nos livros a chave para uma trajetória profissional de sucesso e, hoje, trabalha como servidor da Organização das Nações Unidas (ONU).

Caçula de três irmãos, Italo afirma que sempre foi incentivado pela família a focar nos estudos e considera sua mãe uma grande inspiração. “Acho que as dificuldades enfrentadas pela juventude na periferia, muitas vezes, impossibilitam as pessoas de seguirem seus sonhos”, comenta. Na capital cearense, Alves concluiu seus estudos na rede pública de ensino, incluindo o aprendizado de línguas estrangeiras. “Estudei inglês na Casa de Cultura Britânica e fiz espanhol no Imparh [Instituto Municipal de Desenvolvimento de Recursos Humanos], projetos de extensão que me permitiram adquirir novas habilidades e alçar esses voos”, diz.

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Intercâmbio e novas oportunidades

Aos 17 anos, o cearense teve a oportunidade de participar de uma conferência fora do Brasil foi quando viajou de avião pela primeira vez. “Conheci muitos jovens ativistas que tinham projetos sociais incríveis e estavam causando impacto em milhões de pessoas. Muitos deles tinham conseguido bolsa para estudar no exterior. Foi quando ligou uma lâmpada na minha cabeça: ‘poxa, talvez eu consiga uma bolsa para estudar fora'”, lembra.

Em Londres, aos 17 anos, Italo conheceu Gordon Brown, primeiro ministro do Reino Unido (Foto: Arquivo Pessoal)

À época, o jovem estava cursando Engenharia Ambiental no Instituto Federal do Ceará, mas, com o apoio da família, abandonou a graduação para focar no sonho de estudar nos Estados Unidos. “Consegui uma bolsa integral para estudar Negócios Internacionais na Quinnipiac University. Foi uma luta finalizar o curso porque eu precisava de apoio financeiro e a minha família não tinha tanto. Meus irmãos me ajudavam bastante e minha mãe chegou a fazer empréstimos para garantir que eu pudesse ter a melhor educação possível lá fora”.

Italo Alves cursou Negócios Internacionais na Quinnipiac University (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar dos desafios, em 2015, Italo finalizou a graduação e conseguiu uma oferta para trabalhar como consultor na empresa Deloitte, em Nova York. “Foi uma experiência incrível. Tinha 23 anos e trabalhava na capital do mundo, como é conhecida Nova York, e pude ajudar minha família. Foi um grande sonho alcançado”.

Foco no social

Em entrevista à Plataforma MT, Italo Alves afirma que sempre teve interesse pelo empreendedorismo social e, após a experiência no mundo corporativo, surgiu a vontade de focar na área e se reconectar com o Ceará.

“Foi um período em que eu estava distante da família. A minha avó faleceu, não pude voltar ao Brasil para vê-la e isso afetou a minha saúde mental, mas o meu retorno para o país demorou mais dois anos. Quando ainda estava em Nova York, consegui uma bolsa para fazer um mestrado em Relações Internacionais e Políticas Públicas na China, em um programa super competitivo chamado Schwarzman Scholars“.

Encontro de Italo Alves com colegas do programa Schwarzman Scholars, em 2023 (Foto: Arquivo Pessoal)

Para estudar na Ásia, o cearense competiu com mais de 3 mil pessoas e foi selecionado para uma turma restrita com apenas 100 estudantes. “Estudei na universidade número 1 da China, a Tsinghua University. Foi uma oportunidade que me permitiu conhecer líderes mundiais que visitavam o nosso campus e, quando terminei o mestrado, decidi que queria voltar para o Brasil e contribuir”.

De volta ao Ceará

Engajado com ações de empreendedorismo social no Brasil, Italo trabalhou na Secretaria de Planejamento do Governo do Estado do Ceará e também atuou no Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor).

Após as experiências no Ceará, ele decidiu voltar à área de relações internacionais, com foco nos direitos humanos, unindo a linguagem corporativa com o contato direto com as pessoas. “Surgiu um processo de seleção para trabalhar no Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), me inscrevi nesse processo, passei por toda a seleção e fui aprovado. Em 2021, mudei para Brasília”.

Trabalho na ONU

Atualmente, o cearense é doutorando em Estudos de Conflito e Paz pela University for Peace, pertencente a ONU. “Tenho a oportunidade de ver os 14 projetos com organizações em todo o Brasil que tratam de questões diversas, desde abrigamento, combate à violência de gênero, fornecimento de recursos para necessidades básicas e integração socioeconômica. É um trabalho muito bonito que me inspira e me torna um ser humano melhor”.

“No Brasil, nós temos mais de 700 mil pessoas deslocadas forçadamente. A grande maioria vem da Venezuela”,

afirma Italo Alves.

Em Davos, na Suíça, Italo representa a juventude brasileira por meio do projeto Youth to the Table (Juventude para a Mesa) da We Are Family Foundation uma organização sem fins lucrativos americana que visa empoderar jovens líderes que trabalham pela promoção da paz. Italo foi o único brasileiro e latino-americano selecionado para a delegação de nove pessoas de diversas partes do mundo.

Italo Alves participou da abertura dos eventos Goals House, em Davos (Foto: Arquivo Pessoal)

Ele foi convidado pelo Secretário Geral das Nações Unidas para Assuntos de Juventude para participar de um painel sobre colaboração intergeracional na abertura dos eventos Goals House – espaço da Organização das Nações Unidas. Além disso, teve reuniões com executivos de grandes empresas como Microsoft, HP, SAP, Forbes, e participou de encontros exclusivos como o Swedish Lunch, junto a representantes do governo da Suécia.

Durante a programação em Davos, Italo apresentou uma proposta de política que visa proteger pessoas deslocadas forçadamente em decorrência das mudanças climáticas como refugiadas uma lacuna na atual legislação internacional.

Em 2024, o mundo bateu recorde de deslocamento forçado com mais de 110 milhões de pessoas que tiveram que abandonar casas por conta da guerra, perseguição política e mudanças climáticas, segundo o relatório divulgado pela Agência da ONU para Refugiados.

O cearense foi entrevistado pela CNN, na Suíça (Foto: Arquivo Pessoal)

No evento, ele também apresentou o trabalho da startup social Todxs, fundada por ele em 2016 com a missão de promover a inclusão econômica das minorias sociais no mercado de trabalho por meio do empreendedorismo. “Nós capacitamos mais de 700 pessoas, já apoiamos mais de 100 projetos e impactamos coletivamente cerca de 1,8 milhões de pessoas no Brasil”, comenta Italo, que é co-fundador da iniciativa.

Juventude na liderança

Para o servidor da ONU, é importante que jovens participem de eventos como o Fórum de Davos, sobretudo os jovens brasileiros e sul-americanos. “Tradicionalmente essas pessoas não conseguem participar da mesa de discussão sobre os problemas e as soluções são desenvolvidas muitas vezes com um olhar de pessoas do Norte Global que não têm noção de como solucionar de fato essas questões. Olham muito para os dados, mas não olham para as pessoas“, reflete Alves.

Italo Alves no Fórum Econômico Mundial (Foto: Arquivo Pessoal)

Para jovens que gostariam de se engajar em causas socioambientais, Italo recomenda, como primeiro passo, a identificação com a pauta de trabalho. “O que aquece o seu coração? Descubra qual a sua conexão com essa pauta e aprenda muito sobre ela, entenda o que causa de fato os problemas que você quer resolver, conheça as pessoas afetadas por esses problemas, quem são as pessoas já trabalhando para resolvê-los e tente encontrar uma forma de contribuir”.

Além disso, o cearense também indica ferramentas para interessados em trabalhar na área, como estudos acadêmicos, empreendedorismo social, voluntariado ou engajamento na política. “Existem diversas frentes e cada pessoa pode contribuir de uma forma. Existe espaço para todo mundo”, aconselha.

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