18 maio 2021 | Notícias
O jornalista e ator cearense Danilo Castro lança nesta terça-feira (18), às 18h, o minidoc “África 24%”. Gravado entre 2020 e 2021, a obra audiovisual independente visa investigar a herança africana e indígena do ator a partir de um exame de DNA de ancestralidade global, que mapeia as características genéticas que se assemelham ou são iguais a diversos povos do mundo utilizando como fonte um banco de dados de laboratórios especializados. “Fiz esse exame para saber dessa lacuna e desse passado. Era uma curiosidade muito grande, assim como um lugar de desejo de complementar minha identidade através dessas respostas”, disse o ator ao Site MT.
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A busca por respostas, afirma, o fez documentar o processo e trazer as próprias questões enquanto homem negro no Brasil. “Descobri que a etnia negra cearense vem, principalmente, da etnia bantu, composta por diversos povos da África. São povos situados em países diferentes, mas, hoje, chamamos de Congo, Moçambique, Angola, Zâmbia, Zimbábue, Malawi, ou seja, o centro-oeste da África. Descobri que sou fruto dessa etnia e minha ancestralidade está naquele lugar”, releva.
“Hoje consigo dizer que descendo da etnia bantu, composta por diversos povos da África. E outra coisa que descobri, e não imaginava, é que tenho uma descendência tupi-guarani. Isso me deixou muito feliz e foi uma grande surpresa saber que minha ancestralidade corresponde em 13% aos povos tupi-guarani, em especial aos povos que viviam no litoral nordestino”, diz. Conforme o ator, no Ceará, existe uma crença de que não existiam negros no Estado, no entanto, pontua, é uma negação de si mesmo, que ele busca contrapor no documentário.
“O que existe é um desejo de ser branco, colonizado, nórdico. É uma negação do próprio povo cearense, enquanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a população preta e parta é maior que não-negra no Ceará, e mesmo assim nós continuamos com essa falacia. O documentário faz esse trabalho de resgate, que me fortalece, e espero que possa fortalecer outras pessoas negras no nosso estado e no Brasil. Acredito que toda pessoa mestiça ou negra no Brasil, que não sabe suas origens, deveria fazer esse exame para nós podermos construir um futuro diferente do nosso passado”, pontua ele.
Ainda no documentário, o ator faz uma reverência a três grandes abolicionistas cearenses: Chico da Matilde, conhecido como Dragão do Mar e Tia Simoa. “É uma dupla muito revolucionário, que estão mencionados de forma indireta no trabalho. São figuras importantes para a gente lembrar que mudaram os rumos do povo negro no Brasil, uma vez que a abolição no Ceará aconteceu quatro anos antes que no resto do país. E isso mal é lembrado nos livros de história. Por isso, é tão importante a gente lembrar que ainda temos muito a resgatar desses heróis negros cearenses”, destaca.
Com cerca de 9 minutos de imagens captadas, em maioria, pelo celular, a produção foi gravada nas praias de Flecheiras e Peroba, no Ceará. O trabalho evoca pautas como a descolonização do conhecimento e o enfrentamento ao epistemicídio que as populações negras e indígenas vivem no Brasil.
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Para o ator e jornalista, desnudar-se para propor uma reflexão a partir do documentário é um ato político que contribui para revelar narrativas apagadas no Ceará. “Descolonizar é quando os chicotes e correntes simbólicos do passado deixam de se impor sobre nossas práticas no dia a dia”. O minidoc, tem produção, roteiro e edição de Danilo, e conta com imagens de Gabriela Padilha e David Lima; e figurino de Rafaela Kallafa.
“Quero muito inscrever em festivais no futuro e levar essa obra à frente. Ele é o início de um processo, porque a pandemia ensinou a gente a se reinventar, então, esse minidoc é muito simples, mas, também, uma reinvenção do meu trabalho como ator e jornalista”, projeta ele. Após o lançamento o filme ficará disponível por um tempo no Canal do YouTube do ator, mas será retirado para concorrer em festivais.
O quê: ÁFRICA 24%, um minidoc de Danilo Castro
Estreia em 18 de maio, às 18h