7 abr 2021 | Lifestyle
Já parou para pensar sobre a origem do que você costuma colocar no prato, ou no copo? Além de despertar o paladar, a gastronomia tem o poder de nos apresentar os costumes e tradições de outras culturas, como é o caso de três bebidas que estão se popularizando no Brasil: kombucha, kefir e chai. Confira as histórias por trás delas, costuradas com experiências pessoais, assim como o valor nutricional de cada uma.
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Resultado da fermentação do chá verde ou preto (Camellia sinensis) adoçado, a kombucha é considerada uma bebida “viva”, por levar na composição uma colônia simbiótica de bactérias e leveduras (Scoby). Segundo Rafael Gurgel, professor do Curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), os primeiros relatos e registros sobre a kombucha, que também pode ser chamada no gênero masculino, a localizam no Leste Asiático, especificamente no nordeste da China, em uma região chamada Manchúria.
“Esses relatos aponta seu uso já no século V. De lá teria sido levado ao Japão para auxiliar no tratamento de problemas intestinais do imperador da época. Desde então foi sendo difundido por conta de seus benefícios à saúde de quem a consome pela Rússia, leste europeu e por volta do século XX chegando à Alemanha”, afirma o professor, que leciona disciplinas teórico-práticas com ênfase no contexto sociocultural das técnicas e práticas alimentares.
De acordo com Rafael, a kombucha possui sabor levemente ácido, preservando ainda o gosto do chá do qual foi feito e pode ser saborizada com frutas, ervas ou outro ingrediente, além de carbonatada — acrescida de uma certa quantidade de gás carbônico — para que tenha característica de espumante. “Por ser resultante de processos fermentativos, possui efeitos terapêuticos, dentre eles: antimicrobiano e antioxidante”, comenta.
Atraída pelos benefícios à saúde que costumam ser relacionados à bebida fermentada, a professora de yoga Isadora Lidia, 42 anos, experimentou a kombucha pela primeira vez, em 2017, a convite de um amigo. Hoje, ela investe na produção artesanal para venda e consumo próprio.
“O kombucha me deu muita disposição. Tenho inúmeros relatos de melhora e estabilidade na saúde das pessoas que consomem regularmente a bebida, como síndrome do intestino irritável, pressão alta e casos de prisão de ventre”, diz. Segundo ela, o fortalecimento da imunidade também é um dos atrativos da bebida.
A kombucha é consumida há várias gerações, mas quais serão os verdadeiros impactos da bebida no organismo? A nutricionista Larissa Luna Queiroz, especialista em nutrição clínica funcional, aponta que a bebida pode gerar, sim, benefícios. “Temos bactérias probióticas em todo o nosso corpo e quando aumentamos sua quantidade através desses alimentos, conseguimos perceber melhoras no trato gastrointestinal, funcionamento do trânsito intestinal, melhora do empachamento, da digestão, entre vários benefícios”, explica.
Sobre as precauções, Larrisa aconselha o cuidado com a higienização dos utensílios a quem opta por produzir a kombucha artesanalmente. “É importante para que não tenha contaminação e aumente o crescimento de micro-organismos patogênicos, além disso, pessoas com supercrescimento bacteriano e síndrome fúngica devem evitar o consumo”, aconselha.
Para quem deseja começar a produzir a kombucha, o professor Rafael Gurgel ensina o passo a passo:
Para 1 litro de kombucha:
Ingredientes:
Modo de preparo:
Em 900 ml de água à 80ºc, adicionar entre 6 e 9 gramas de chá verde ou preto (Camellia sinensis), deixar tampado entre 5 e 10 minutos e coe. Em seguida, adicione 60g de açúcar demerara e deixe esfriar a temperatura ambiente. Em um recipiente de vidro com a borda larga adicione o chá adocicado, os 100ml de arranque (kombucha pronta) e o scoby. Cubra com papel toalha ou tecido voal, para que haja contato com oxigênio pois é imprescindível para a fermentação. Reserve em local ventilado e protegido da luz direta do sol por três a dez dias, a depender da temperatura ambiente, já que a mesma pode retardar ou acelerar o processo fermentativo.
Em seguida retirar o scoby e uma porção que irá servir de arranque na próxima produção de kombucha. Poderá ainda adicionar um saborizante que seja do seu gosto e a kombucha estará pronta para consumo.
Primo distante da kombucha, o kefir (ou quefir) é outra bebida fermentada que está se tornando popular no Brasil e pode ser preparada de duas formas: com leite ou água. Os dois métodos possuem origens diferentes. De acordo com o professor Rafael Gurgel, o kefir de leite é produzido pela ação fermentativa de outra colônia simbiótica de leveduras e bactérias. A bebida é proveniente da região do Cáucaso, onde usavam bolsas de couro para guardar o leite, assim o processo foi percebido inicialmente. O nome kefir tem origem na palavra turca keif, que significa “bem-estar” ou “bem viver”.
“Diferente da kombucha, não é necessário adicionar açúcar no leite, pois o que será consumido pela colônia é a lactose (açúcar do leite), o que resultara um sabor acidificado e espessura mais densa parecendo um iogurte. O kefir de leite ou iogurte de kefir se diferencia das demais bebidas lácteas pela diversidade de bactérias lácteas e leveduras”, comenta Rafael.
No caso do kefir de água ou tibico, a colônia de bactérias e leveduras precursora da bebida é parecida em seu formato com o kefir de leite, tem formatos de grânulos, mas necessita de açúcar como a kombucha. A origem desse método foi relatada em estudos do etnobotânico William Litzinger tendo o México como local de origem.
A primeira vez que Hannah Rego Fonseca, 30 anos, experimentou o kefir ela estava grávida. Essa experiência aconteceu em 2018. “Na gravidez, meu paladar estava infantilizado então estranhei o sabor azedinho e fermentado, mas isso não me impediu de tomar novamente. Fui convidada para trabalhar dando aulas de alimentação viva num retiro depurativo e iniciei meus estudos de fermentação. Essa época eu já estava me alimentando de forma mais natural. Quando tomei o kefir gostei muito e comecei a cultivar com muito prazer“, conta.
“Tanto eu como minha família começamos a tomar no dia a dia e somos beneficiados com a ingestão da bebida”, afirma Hannah que, atualmente, é produtora artesanal da empresa Sol Alimentação Natural em Canoa Quebrada. Ela produz kefir e kombucha, além de ministrar aulas de alimentação natural de forma online.
“Os probióticos são milenares, tanto kefir como kombucha, mas estão a pouco mais de vinte anos sendo divulgados pelo Brasil e, por não fazer parte da cultura do brasileiro, me dedico a divulgar essas bebidas não apenas vendendo como também doando o scoby da kombucha e os grãos de kefir de água para que as pessoas entrem em contato com esses seres que tanto nos fazem bem”, relata.
De acordo com a nutricionista Larissa Luna, as duas bebidas podem ser consumidas com frequência, porém, é importante o acompanhamento de um profissional. “Costumo orientar o consumo pela manhã, em jejum, para ter o maior aproveitamento dos benefícios. Sobre os nutrientes, cada cultura bacteriana vai proliferar de uma forma diferente, nem todo kefir e nem toda kombucha tem a mesma composição, mas encontraremos uma grande quantidade de vitamina K e vitaminas do complexo B, com certeza”, aponta.
Para quem deseja começar a produzir o kefir, o professor Rafael Gurgel ensina o passo a passo:
Para 1 litro de kefir de leite;
Ingredientes
Modo de preparo
Em um recipiente de vidro colocar 1 litro de leite e 30g de grãos de kefir, cobre com voal ou mesmo tampar e reservar por 24 horas. Após esse período passar em uma peneira para separar os grãos. Colocar para gelar e está pronta para o consumo.
Para 1 litro de kefir de água;
Ingredientes
Modo de preparo
Colocar as 30 gramas de grãos de kefir em 1 litro de água filtrada em temperatura ambiente, acrescentar 2 colheres de sopa de açúcar mascavo. Misturar bem e deixe fermentar por 24 horas em seguida coar. Se quiser pode fermentar por até 48 horas. Beba quando quiser.
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Você já experimentou o chai latte? Essa bebida milenar tem origem pouco conhecida – alguns dizem que surgiu há cinco mil anos, outros dizem nove mil anos atrás, na Índia ou na Tailândia. O certo é que a mistura agradou a realeza local, se transformando rapidamente em uma receita aprovada pelos mais poderosos e, com o passar dos anos, conquistou o planeta.
O que chamamos no Brasil de chai latte nada mais é do que o indiano masala chai (chá picante, em português). Hoje, ele é basicamente a mistura do chá preto com leite e especiarias, como canela, cardamomo, gengibre, anis e cravo. Tudo isso forma uma mistura intensa e levemente picante, além de rica em benefícios à saúde.
De acordo a nutricionista Larrisa Luna, a mistura de especiarias possui várias formas de preparo, mas todas têm em comum benefícios ao organismo. “Elas tem benefícios anti-inflamatórios e antioxidantes dos ingredientes presentes que são gengibre, canela e cardamomo especialmente. O gengibre é um ótimo digestivo e a canela é um hipoglicemiante. Mas, atenção para pessoas com ansiedade, refluxo grave ou insônia, os ingredientes estimulantes podem atrapalhar esses pontos”, orienta.
Até hoje a combinação faz parte da cultura indiana. A bebida costuma ser servida para receber pessoas em casa, ou no chá da tarde, por volta das 16h. Como acompanhamentos, comidas típicas, como as frituras samosas e pakoras.
No ocidente, popularizaram-se as versões industrializadas e os adoçantes mais comuns costumam ser o mel ou o açúcar, enquanto o leite deixa de ser integral e passa a ser substituído pelo desnatado, leite de soja ou até mesmo bebidas não lácteas.
Confira a receita do chai latte:
Ingredientes
Modo de preparo
Aqueça em fogo baixo a água com todos os ingredientes, exceto o açúcar, o leite e o chá preto. Após, próximo da fervura, desligue o fogo e adicione o chá preto. Deixe descansar, por 10 minutos com o recipiente fechado. Coe e coloque em outro recipiente de maior capacidade. Adicione o leite e aqueça, mas sem deixar ferver. Adoce a gosto e sirva quente.