20 maio 2022 | Moda
Apesar do sucesso do site com peças acessíveis e modelagens diversas, fashionistas acusam a empresa de mal remuneração da mão de obra, além da falta de responsabilidade ambiental
Looks super coloridos e estampas com ilusão de ótica. Não é difícil identificar as tendências que estão fazendo a cabeça dos jovens atualmente, basta dar uma olhada no TikTok — entre uma dancinha e uma receita. Reflexo da era pós-isolamento, o digital estreitou a relação com o universo da moda e, por meio dessa brecha, uma plataforma de compras chinesa se tornou um império global: a soberana Shein. Porém, apesar do sucesso do site com peças acessíveis e modelagens diversas, fashionistas acusam a empresa de mal remuneração da mão de obra, além da falta de responsabilidade ambiental. Confira os prós e contras de comprar na Shein.
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Shein abre loja física no Brasil com experiência de compra diferente
Antes de mergulhar nos principais questionamentos que rodeiam a Shein, é necessário reconhecer o impacto e pioneirismo da empresa. A criação de Chris Xu, especialista em otimização de mecanismos de busca, possui clientes em 150 países e US$ 11 bilhões em vendas anuais. Sediada em Nanjing, na China, a Shein agora é mais valiosa do que a Zara e a H&M juntas, suas maiores concorrentes de fast fashion. Aliás, ela é uma das pioneiras de um novo padrão de consumo, chamado de ultra fast fashion.
O modelo de negócios é baseado na previsão de tendências de moda rápida em tempo real, fabricação verticalmente integrada, marketing viral por meio de influenciadores de mídia social e uma rede de logística que ignora navios de contêineres e caminhões. O fast fashion na era digital.
A empresa usa algoritmos que rastreiam a atividade de navegação no TikTok, no Instagram, no Google e em outras plataformas digitais. Esta informação é transformada em roupas de tendência de produção limitada em cerca de três dias. Os itens são então comercializados online e por milhares de influenciadores baseados em comissões. O próprio aplicativo é super atrativo e usa estratégias para prender a atenção, como acúmulo de pontos. Assim, os clientes recebem vestidos, blusas e brincos em poucos dias pelo correio.
Segundo a professora universitária, escritora e consultora de Imagem e Estilo, Renata Santiago, a velocidade da produção da plataforma e o preço de banana conquistam os clientes, mas é preciso avaliar os fatores que tornam esse modelo possível. “A rapidez é o grande trunfo da Shein. Eles usam o algoritmo para produzir exatamente o que as pessoas estão pesquisando numa velocidade muito rápida, porque não têm fábrica própria e utilizam muita mão de obra com condição precária. É dessa forma que a empresa consegue fazer um produto com o preço bem acessível”, comenta.
Além disso, Renata aponta que a plataforma não trabalha com inovação e foca na reprodutibilidade de peças. “A Shein não é como as outras empresas de fast fashion que produzem peças parecidas. Ela faz cópias idênticas, sem nenhuma preocupação com o design ou com responsabilidade ambiental, social, econômica e consumo consciente”, diz a professora.
“A plataforma mostra um valor muito forte na sociedade contemporânea: a aceleração social. Hoje, as pessoas vivem na internet. Acredito que essa ideia dos valores de trabalho deve ser muito avaliado e é algo que eu prezo bastante, mas devemos observar que na prática as pessoas continuam valorizando muito mais uma peça barata e que tem uma informação de tendência do que uma peça que tem um valor altíssimo agregado de criação, de sustentabilidade e de respeito a mão de obra”, explica.
Apesar das críticas, a plataforma chinesa avança não apenas por comercializar peças baratas, mas por vestir corpos diversos. “A Shein tem conquistado muitos consumidores no Brasil, e no mundo, tanto pela variedade, quanto pela acessibilidade de tamanho. Ela tem trabalhado com a grade bem maior ou bem menor do que as marcas “tradicionais”, o que traz a questão de democratização dos corpos e abrange um público que não era atendido”, lembra Renata.
“Muitas pessoas falam ‘eu quero comprar uma peça sustentável e com design bacana, mas não consigo porque é um valor muito alto’ e a Shein vem com a tendência e entrega um produto rápido com qualidade compatível ao preço que a pessoa pagou. O cliente se sente contemplado e acolhido, algo que a maioria das marcas continuam sem fazer, sem valorizar todos os tipos de corpos ou fazendo isso como uma espécie de fachada”, reflete a professora universitária.
@noiaugusto O plus size masculino da shein ta me surpreendendo muito positivamente na variedade, qualidade e tamanho #shein #sheinplus #sheinhaul #plussizemasculino #plussize #modaplus #modaplussize ♬ Notion – The Rare Occasions
Então, a Shein contribui para uma moda mais acessível? De acordo com Renata Santiago, não é bem assim. “Se definirmos a moda como um espírito dos tempos e a representação imagética na estética do que está nos atravessando agora, o advento da Shein reflete muito a nossa filosofia. Eles conseguem captar a lógica da interação com os adolescentes que são as pessoas que ditam as tendências. Neste sentido, está mais acessível, mas me questiono sobre a consciência desse consumo às vezes irresponsável. Quem está pagando por essa acessibilidade? A questão é muito complexa”, pontua.