Márcia Travessoni – Eventos, Lifestyle, Moda, Viagens e mais

Entre em contato conosco!

Anuncie no site

Comercial:

[email protected]
Telefone: +55 (85) 3222 0801

Por que Dj Ivis emplaca música em primeiro lugar e ganha seguidores? Psiquiatra explica fascínio

22 jul 2021 | Notícias

Por Redação

DJ Ivis ganhou mais seguidores no Instagram após vazamento de vídeos em que ele agredia a esposa (Foto: Reprodução/Instagram)

Preso na última quarta-feira (14), DJ Ivis continua faturando alto mesmo na cadeia. Na terça-feira (20), uma faixa de sua autoria alcançou o primeiro lugar das playlists Top Viral Brasil e Top Viral Mundo, do Spotify. A música “Rolê”, gravada por Marcynho Sensação, passou a listar entre as mais pedidas do país. Paralelamente, o aumento do número de seguidores do perfil de DJ Ivis no Instagram também chocou muita gente. Desde que os vídeos das agressões da então esposa, Pamella Holanda, foram revelados, no último dia 11, mais de 250 mil pessoas passaram a seguir o cantor. O que explica o aumento dessa visibilidade mesmo com as provas do crime ocorrido?

LEIA MAIS >> Xand Avião, Onélia Santana, Wesley Safadão e mais se posicionam contra agressões de DJ Ivis

De dançarina da Garota Safada à musa da Grande Rio: Mileide Mihaile fala sobre relação com a dança

Segundo o psiquiatra Igor Emanuel Vasconcelos, especialista em psicoterapia cognitiva-comportamental e em perícia forense, é importante salientar que somente o fato de um agressor ganhar novos seguidores não indica, necessariamente, que ele receba o real apoio de todos que o seguem.

“É possível que uma parcela relevante dessas pessoas sejam atraídas no intuito de conhecer o próprio perfil do agressor. Simplesmente curiosos, possivelmente, tentando compreender – a partir dos posts – um pouco do perfil psicológico dele e como o DJ poderia ter culminado em uma injustificada agressão”, comenta.

Bio do DJ Ivis na quarta-feira (21) (Foto: Reprodução/Instagram)

O aumento do número de seguidores por causa dos “fofoqueiros” de plantão é uma possibilidade, porém, Igor explica que há efetivamente pessoas que são atraídas e possuem fascínio por atos de violência, seja na vivência digital ou fora dela.

“Desde tempos imemoriais é possível mapear esta atração natural que muitos sentem pelo tema: desde os gladiadores romanos lutando até terem as vidas ceifadas, sendo aplaudidos pela plebe na política do pão e circo, passando pelas condenações públicas medievalescas nas fogueiras da Santa Inquisição”, reflete.

Após denúncia, Pamella Holanda também recebeu apoio na web (Foto: Reprodução/Instagram)

O psiquiatra reflete que a violência sempre esteve presente na sociedade, o que ainda reflete na forma como lidamos com ela até hoje. “A espécie humana é, assim, em alguma medida inclinada naturalmente àquilo que é violento. Nossas heranças evolutivas darwinianas remontam a algumas centenas de milhares de anos, quando a agressão era necessária como mecanismo de adaptabilidade para a sobrevivência da espécie. Todo este histórico permanece em alguma medida aceso, a nível inconsciente, nos nossos cérebros”, explica.

“Quando presenciamos um ato violento, isto pode nos atrair ou igualmente repelir, a depender das disposições subjetivas de cada indivíduo. Ao longo do processo civilizatório, naturalmente, a atração à violência foi suavizada. Mas esta ‘impressão digital evolutiva’ ainda está lá, silente e perigosa“.

Igor Emanuel, psiquiatra

Transformando o vilão em herói?

De acordo com o especialista, historicamente, as pessoas apoiam atos violentos que têm uma conotação condenatória, como uma retaliação direcionada a quem transgrediu uma norma social imposta por uma autoridade, por exemplo. “A questão que nos causa maior estranheza e assombro é quando justamente o próprio transgressor passa a figurar como alguém apoiado, e até admirado, pela opinião pública“.

Cena do vídeo que mostra DJ Ivis agredindo a esposa Pamella Holanda (Foto: Reprodução/Twitter)

“Quando se trata de alguma persona de influência ou formador de opinião, é possível cogitar que entre em ação um mecanismo de negação do tipo ‘é impossível que ele tenha feito isso!’. Uma vez que já existe uma pré-concepção no imaginário popular de quem é aquele “ídolo”, notadamente idealizado, fica difícil aos fãs se desfazerem desta ilusão antes concebida. Daí, entra a sorrateira negação para nos manter no status quo de nossas crenças e distantes da realidade”, diz o psiquiatra.

Agressores se apoiam

Em entrevista, o especialista em direito e perícia forense afirma que agressores, geralmente, apoiam outros agressores, o que também pode estar relacionado a “ascensão” de Ivis nas redes. “Tendemos a ter atração por aquilo que nos é similar, ao que ressoa familiar nas nossas mentes, seja a nível consciente ou não. Neste contexto, é possível que indivíduos dados a comportamentos agressivos como uma estratégia de demonstração de poder e domínio, tendam a se afiliar com seus pares também violentos. Uma espécie de associação de ‘machos alfa’ em busca de autoafirmação“.

Ele ainda lista características que costumam estar atreladas ao perfil de um agressor: indivíduos com padrão de frieza emocional; incapacidade de conectar-se empaticamente com outras pessoas; egocentrismo exacerbado; comportamento manipulador e versatilidade criminal. “Estes indícios podem nos apontar para sujeitos portadores de transtorno personalidade antissocial, mais comumente chamados de psicopatas”, aponta.

Porém, Igor ressalta que nem todos que exaltam ou se identificam com o agressor são psicopatas. “Há aqueles com estrutura psíquica extremamente fragilizada, que tentam usualmente validar-se a partir de figuras externas consideradas poderosas ou influentes. Como estas pessoas têm uma grande e crônica sensação de vazio vão buscando disfuncionais modelos em pessoas que alcançam algum grau exposição pública, sobretudo quando estas são içadas à fama pelos veículos de comunicação”.

Após a notícia do hit de Ivis no Spotify, fãs apoiam a carreira do cantor (Foto: Reprodução/Instagram)

“Estes padrões comportamentais de hiperidentificação com midiáticas figuras violentas podem não passar de espelhos para o passado de algumas destas pessoas, muitas das quais vivenciaram diversos tipos de privações, abandonos e violências na infância e adolescência. Isto leva a déficits na forma de apego nas relações interpessoais”,

comenta Igor.

Assim, não é de se espantar que vários serial killers, com atos extremamente sádicos, despertem tanta atração e até apoiadores. Inclusive, famosos serial killers nacionais, como Francisco de Assis Pereira (conhecido como o Maníaco do Parque), e internacionais, como Ted Bundy e Jeffrey Dahmer, receberam diversas cartas de admiração e até com teor amoroso após os crimes.

Como identificar um agressor

De acordo com a denúncias feitas contra Ivis, as agressões ocorriam com frequência desde fevereiro deste ano. Em áudio divulgado pelo colunista Léo Dias, do portal Metrópoles, um funcionário do produtor – testemunha ocular do crime – diz que chegou a intervir em discussões anteriores do casal para evitar, segundo ele, a morte de um dos dois.

O psiquiatra Igor Emanuel explica que para identificar agressores é preciso analisar primeiro o tipo de violência. “Existem agressões que são meramente reativas, cometidas de forma impensada. São, no mais das vezes, desorganizadas e praticadas habitualmente por indivíduos com déficit no controle do impulso ou outras disfunções no exercício do autocontrole emocional/comportamental. Já em outras circunstâncias, as agressões são instrumentais, ou seja, organizadas e sistematizadas”.

“Neste contexto, essas agressões instrumentais tem uma finalidade bem determinada. Os indivíduos tendem a usar da violência de forma manipulativa. São usualmente pessoas frias, sádicas, egocêntricas e sem empatia pelo sofrimento do outro”, diz.

O médico ressalta que todas essas reflexões não se prestam a justificar qualquer comportamento criminal, sobretudo em um mundo de tantas relações assimétricas. “Explicar um comportamento disfuncional não se equivale a justificá-lo ou minimizá-lo, mas sim compreendê-lo, descortinando a ignorância, para a partir daí todos nós decidirmos como nos conduzir enquanto uma sociedade que falha sistematicamente em proteger as mulheres com a contundência necessária“.

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie. Casos de violência doméstica são, na maioria das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros e a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares. Além disso, é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Publicidade

VEJA TAMBÉM

Publicidade

PUBLICIDADE