20 ago 2022 | Poder
A CEO da Fargo e as filhas Melissa e Lisie questionaram papéis para colocar a mulher em lugar de liderança no cenário empreendedor cearense
Por Vanessa Madeira*
Por trás do sucesso da Fargo, um dos mais importantes nomes no mercado cearense de calçados e acessórios, existe “muito corre”, como gosta de dizer a CEO Neily Aragão, 52. A empresa passa por uma
série de transformações desde 2018, quando ela e as filhas, Lisie, 28, e Melissa, 32, assumiram o comando. Além das mudanças tangíveis, como a reformulação da identidade visual e o novo design das lojas, a marca incorporou um lema que traduz a essência do trio de mulheres na atual gestão: protagonistas dos próprios passos.
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Revista Márcia Travessoni #20: Ivens Dias Branco Júnior
A família levou para a Fargo a experiência de 30 anos no varejo. A história de empreendedorismo das
três, no entanto, começou em uma área muito distante da moda. Neily e o marido, José Nelto de Menezes, firmaram carreira no comércio de materiais de construção no interior do Ceará, à frente da Construpiso. A empresa, fundada pelo casal na década de 1990 em Tianguá, foi onde Lisie e Melissa deram os primeiros passos, na vida e nos negócios.
Juntos, pai, mãe e filhas fizeram uma pequena loja de ferro, tinta e cimento se tornar referência no segmento na região Norte do Estado. A transição desse mundo para o da moda aconteceu de forma não intencional, diante da oportunidade de investir em uma marca com história, posição consolidada no setor e clientela fiel. Ao mesmo tempo, unia os anseios de toda a família.
Para Neily e José Nelto, na época se recuperando do segundo câncer, seria a garantia de independência financeira e profissional das filhas, que ficariam responsáveis pela administração. Já para Melissa e Lisie, a Fargo era a chance de colocar em prática o aprendizado adquirido com os pais.
“Eu tinha três filhas e precisava educá-las com valores decentes. Achei que esse era o momento para mostrar o que esperava delas”, conta Neily.
Filha mais velha de uma família de três homens e duas mulheres, a empresária teve que impôr a própria presença e questionar papéis atribuídos a ela para ganhar credibilidade em ambientes dominados por homens. “Fui criada para ser uma bonequinha de laço, casar e ter filhos. Quando chegou a minha vez, com filhas mulheres, tive um estalo: tudo o que homem faz, essas meninas vão fazer. Tudo elas vão ter que saber resolver sozinhas”, acrescenta Neily sobre a criação de Lisie, Melissa e Anice, a caçula, estudante de Psicologia.
As duas irmãs mais velhas lideraram todo o processo de aquisição da Fargo, assim como a troca de gestões. Em paralelo à Construpiso, ambas possuíam experiências de trabalho em grandes multinacionais, inclusive fora do Brasil. Contudo, não conheciam o mercado de moda.
“Nunca fomos de ler a Vogue ou assistir a desfiles”, revela Melissa. “Para mim, foi uma transição de carreira, porque sou da Administração. Aprendi a desenvolver uma coleção, a entender de estilo. Mas já tinha isso internamente, de amar esse mundo”, acrescenta Lisie.
O know-how e a confiança para chefiar a empresa vieram na prática e se consolidaram com o rebranding, iniciado em 2021. Com a mentoria da renomada designer Ana Couto – conhecida nacionalmente pelo trabalho junto a gigantes como Natura e Lojas Americanas -, a marca se redes-
cobriu e encontrou equilíbrio entre legado e renovação.
Os novos rumos são guiados pelo propósito de atender mulheres fortes, que se apoiam na moda para facilitar o dia a dia. Também por isso, etapas do rebranding como o desenvolvimento da nova identidade
visual da marca e a reforma das lojas, foram capitaneadas, em grande parte, por profissionais mulheres.
“A gente tem esse valor muito forte do feminino, de protagonizar, e queria também trazer isso para a empresa”, afirma Lisie. “A mulher Fargo é uma mulher que bota dinheiro na casa, que não depende do pai, não depende do marido. É muito do que nós somos”.
“A Fargo faz o sapato e a bolsa para essa mulher ganhar a vida. Depois disso, buscamos oferecer
um sapato que entregue muito mais conforto, uma bolsa que seja mais versátil. Vemos a moda como facilitadora”, completa Melissa.
*Este conteúdo foi originalmente publicado na Revista Márcia Travessoni #20.