19 nov 2020 | Entretenimento
A leitura pode até ser um ato solitário, mas as vivências e aprendizados fomentados por um bom livro atravessam as palavras e se fazem presentes no dia a dia. Com o desejo de discutir e compartilhar conhecimento após uma história, alguns leitores participam de clubes de leituras. “É incrível como todos os assuntos já foram algo na vida de alguém. Sempre temos algo em comum com uma leitura, muito além do título. A discussão é a construção a mais daquela história que envolve a gente”, ressalta a advogada Grazielle Gomes, amante dos livros e coordenadora do clube Biblioteca da Grazi.
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Grazi Gomes sempre gostou de compartilhar as leituras mais recentes nas redes sociais. Ela destina resenhas para o Instagram literário “Biblioteca da Grazi“. Mas foi só durante o início da pandemia no Ceará, com a rotina alterada e os estresses do isolamento social mais rígido, que a advogada decidiu dar um passo a mais para incentivar o gosto pelos livros. Depois de pedir opiniões aos seguidores, fundou o próprio clube online de leitura. “Pensar em um livro e lê-lo pra depois conversar e debater me ocupou mais ainda a mente. Eu tenho um carinho enorme porque tudo é muito novo, mas fui abraçada pelas minhas seguidoras do ‘Biblioteca da Grazi’. Compraram a ideia e iniciei o grupo. Foi também algo que me ajudou contra a ansiedade”, declara.
Um clube de leitura funciona da seguinte forma: “Há uma pessoa para mediar, indicar o livro ou os livros. Muitas vezes, também se pede opções, abre-se votação. Após escolhido o livro, há um tempo para a leitura, de três a quatro semanas. Logo depois, é feita uma reunião para falar sobre os temas do livro”, descreve Grazi.
Para ela, a mediadora é uma peça importante para as discussões. “Ela deve puxar o assunto, falar trechos importantes, já que muitas vezes, os demais participantes ficam travados. Então, com a existência de alguém para mediar, elas vão se soltando e a conversa vai fluindo muito bem”, aponta.
Virginia Woolf, Conceição Evaristo e Mário Magalhães são alguns dos autores lidos no clube mediado por Grazi. Os livros escolhidos para o clube são, principalmente, os escritos por mulheres ou voltados para temas feministas, raciais e políticos. Após a leitura, as participantes se reúnem pelo Zoom, aplicativo de videochamada, e discutem o que acharam mais importante na história.
“Para mim, é incentivo para manter um ritmo de leitura, conhecer autores que talvez em uma rotina comum você não lesse. É uma oportunidade de também interagir com outras pessoas que pensam diferente de você e, ao mesmo tempo, de forma parecida. Eu acho que só multiplica conhecimento”, ressalta Grazi sobre a importância dos clubes de leitura.
Com o objetivo de incentivar a leitura durante a pandemia, o estudante de Pedagogia Renato Tartuce e mais duas amigas, Yasmin Silva e Alice Gonçalves, fundaram a “Sociedade Literária dos Indecisos”. O clube não foca, a cada mês, em um livro específico, mas sim, em um tema. “As pessoas podem escolher livros que elas mais se identificam e têm acesso. Ao fim do mês, trocamos nossas experiências em diferentes livros relacionados ao tema proposto”, esclarece Renato.
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“O nosso clube tem três objetivos principais que podem ser considerados vantagens de participação: incentivo à leitura, troca de experiências leitoras e a saída da zona de conforto. Nós buscamos realmente dar suporte a essa forma de lazer que é a leitura, principalmente, pelo período que o nosso clube foi criado, em maio deste ano. Enquanto as pessoas estavam dentro de casa nesse momento difícil, nós pensamos em ajudar facilitando esses momentos de distração e entretenimento, mas também de reflexão em um formato que escapa das telas do celular, do computador e da TV. Acho que todos esses pontos são vantagens enormes”, revela com entusiasmo.
São várias as temáticas abordadas pelo grupo, como clássicos da literatura brasileira, ficção feminista, romances psicológicos e, neste mês, histórias sobre guerras. “Os temas variam muito, nós organizadores discutimos com antecedência quais temas acharíamos interessantes propor para os participantes, levando em conta o que já foi lido. Assim, a partir das discussões não estamos só trocando experiências de lazer por meio das histórias lidas, mas também reflexões e debates políticos e sociais muito pertinentes, como misoginia, violência doméstica, racismo, classicismo, sistema prisional e vários outros”, conta.
Amante dos livros, a estudante de Ciências Biológicas, Victória Alves, sempre adorou conversar sobre as leituras com os amigos. Inspirada por filmes que destacavam clubes de leitura, como “O Clube de Leitura de Jane Austen”, e “Sociedade dos Poetas Mortos”, ela decidiu que gostaria de fazer parte de um. “Encontrei um instagram literário que estava organizando leituras coletivas e imediatamente me motivei a criar meu próprio clube, e, assim, compartilhar experiências e pontos de vista de leitura com pessoas diversas“, lembra.
“Eu não tenho um instagram especialmente voltado para livros, mas resolvi encarar mesmo assim. Conversei com a minha amiga Lívia, que amou ideia desde o começo, juntas criamos o ‘Clube de Leitura Arretado da Jane Austen’. Já estamos lendo o quarto livro da autora e com planos de expandir o tema para obras de diferentes mulheres”, comenta Victória sobre o processo de criação do próprio clube de leitura.
Mensalmente, as participantes do “Clube de Leitura Arretado da Jane Austen” leem um livro da autora inglesa. A Victória e a amiga, Lívia Guimarães, disponibilizam um cronograma opcional de leitura mensal e materiais digitais complementares para os membros em um grupo no WhatsApp. No fim da leitura coletiva, elas organizam um debate virtual na última semana do mês. “Também conversamos sobre a leitura em si, indicações de outros livros, sentimentos quanto ao livro ao longo do mês”, ressalta.
Para Victória a experiência de ministrar um clube de leitura tem sido bastante proveitosa. “Jane Austen é uma das minhas escritoras preferidas e eu sempre tive curiosidade sobre como seria juntar diferentes pessoas para ler os livros dela juntas. Um clube de leitura motiva a experimentar novas leituras, concluir leituras atuais e compartilhar pontos de vista”, pontua.
Para quem deseja participar de um clube de leitura, Victória aconselha buscar perfis literários no instagram, já que muitos organizam clubes de leituras coletivos e abertos. “Outra opção é reunir amigos e criar o próprio clube, compartilhando leituras do mesmo livro ou então da mesma temática”, sugere.