31 maio 2019 | MT Life
Conhecer a Normandia, região localizada no noroeste da França, é mergulhar em histórias. Histórias que envolvem fé, guerras e até mesmo a arte e a arquitetura dos lugares. Assim que desembarquei no País, meu primeiro destino foi Le Havre, distante 190 km de Paris. Com um pouco mais de 180 mil habitantes, é a maior cidade da Normandia e um grande refúgio da história francesa.
Boa parte de sua história está relacionada à Segunda Guerra Mundial. Ocupada desde 1940 pelo exercício alemão, a cidade foi quase que completamente destruída pelos nazistas no verão de 1944, durante a Batalha da Normandia. Mais de 100 bombas arrasaram Le Havre e cerca de 80% da população ficou desabrigada no período.
Liberada da ocupação alemã em setembro de 1944, a cidade precisou passar por uma completa e rápida reconstrução. O arquiteto Auguste Perret, juntamente com uma equipe de 60 outros arquitetos e projetistas, foi o responsável por todo o planejamento da cidade portuária. Familiarizado com o concreto, Perret utilizou o material como base para grande parte das construções.
Para abrigar a população, foram projetados mais de 300 apartamentos de concreto na praça da Prefeitura, com materiais práticos e mobília produzida em escala, pois a cidade precisava ser reconstruída com urgência. Na Avenida Foch, localizada no coração de Le Havre, é possível avistar blocos de apartamentos mais sofisticados, com halls preenchidos por espelhos e lustres.
Visitamos também a Igreja de São José, outro ponto destruído durante a guerra. Toda erguida em um tipo de concreto que imitava a madeira, a nova igreja foi projetada por Perret e impressiona pela sua torre de 107 metros e janelas retangulares multicores que dão um toque imponente ao santuário.
O Brasil deu a sua contribuição para a restauração de Le Havre após a guerra. O arquiteto Oscar Niemeyer foi convidado a revitalizar o principal centro de convivência da cidade. Fiquei encantada ao conhecer o Centro Cultural Le Havre, mais conhecido como Le Volcan (O Vulcão), que comporta um teatro e uma biblioteca que levam o nome do brasileiro. Em seu site oficial, Niemeyer definiu assim o projeto: “Queria que a minha arquitetura revelasse uma nova etapa no campo do concreto armado e fosse tão simples e abstrata que, sem ser competitiva, acentuasse o impacto arquitetural que imaginava”.
Em 2005, a cidade foi tombada pela Unesco em reconhecimento a sua imponente arquitetura de prédios contemporâneos.
A Nova Le Havre também é arte
Nem só de guerras e arquitetura se construiu a história de Le Havre. A cidade também respira arte, tanto que é um dos maiores refúgios do impressionismo. Foi lá que impressionistas como Eugène Boudin e Claude Monet se conheceram e iniciaram suas carreiras artísticas. Inclusive, um dos quadros mais famosos de Monet, “Impression, soleil levant”, retrata o contraste entre o mar e a luz do amanhecer no porto de Le Havre.
Inaugurado em 1845, o Museu de Arte Moderna André Malraux (MuMa) é o primeiro museu da cidade e um dos locais mais indicados para quem quer mergulhar mais a fundo no acervo de Boudin e Monet. Sem falar que a sua arquitetura moderna, em vidro, é de tirar o fôlego.
No dia em que estive no MuMa, foi inaugurada a exposição “Raoul Dufy in Le Havre”, que reúne cerca de 90 obras do pintor impressionista que fez da sua cidade natal inspiração para a arte. A mostra permanece em cartaz até 3 de novembro. Saiba mais clicando aqui.
Entre um passeio e outro em Le Havre, descansamos no Hotel du Pasino, localizado na charmosa Praça Jules Ferry, no centro. Além de muito aconchegante, o hotel spa possui uma arquitetura contemporânea bastante distinta.
Durante a nossa estadia na cidade, ainda tivemos a honra de acompanhar Eric Baudet, diretor de comunicação do Escritório de Turismo de Le Havre, em um jantar intimista no Le Grignot, restaurante especializado em frutos do mar. Meu pedido foi um delicioso peixe com legumes, enquanto Fernando optou por um saboroso Risoto de Camarão.
Para quem deseja viver uma experiência gastronômica ímpar, também vale a pena reservar uma mesa no restaurante Le Margote. Classificado pelo Guia Michelin, o ambiente oferece culinária genuinamente francesa, e tem uma das decorações mais legais que já vi, inspirada nos elementos tropicais. O chef Gauthier Teissere assinou o menu surpresa para o nosso jantar. É uma experiência interessante: a gente não saber o que vamos comer e sermos surpreendidos pelo chef. Achei muito bacana.
As reservas para o Le Margote são muito disputadas e devem ser feitas com, pelo menos, três semanas de antecedência.
As falésias de Étretat
Os primeiros dias de nossa viagem intercalaram visitas a Le Havre e a Étretat. A pequena cidade francesa, com pouco mais de 1.500 habitantes, guarda um tesouro que encanta turistas de todo mundo: dramáticas falésias brancas, esculpidas pelo mar e pelo vento, nos presenteiam com uma paisagem impressionante, que desenha o litoral da Normandia com arcos rochosos que remetem a outras eras.
Nosso rápido passeio por Étretat ainda incluiu um almoço leve e descontraído no Le Bel Ami, na companhia da guia Adeline Fouquer. O restaurante jovem e amigável é bastante frequentado por turistas que visitam a cidade, que atualmente se mantém economicamente através do turismo.
Fécamp: o reduto do Licor Bénédictine
Depois de Le Havre e Étretat, nossa próxima parada foi Fécamp. A cidade é mais conhecida por abrigar um castelo que foi especialmente erguido para a produção do Licor mundialmente conhecido Bénédictine.
A história do Bénédictine se inicia na abadia Fécamp, onde a fórmula mágica era produzida pelo monge Dom Bernardo Vincelli. Em 1510, o licor nada mais era do que um famoso elixir fabricado pelo monge com ervas medicinais colhidas nas falésias da cidade. Relatos apontam que até a revolução francesa, em 1789, o elixir foi fabricado pelos Bénédictins.
No ano de 1863, o negociante de vinhos Alexandre Le Grand encontrou a receita do elixir na biblioteca familiar e obteve, junto aos superiores dos Bénédictins em Roma, o direito de utilizar o nome e a logo da Abadia de Fécamp. Assim renasce o Bénédictine com a menção D.O.M., que significa Del Optimo Maximo (Deus absolutamente bom, absolutamente grande).
O castelo chama a atenção pelo seu estilo diferente, com uma decoração interna monumental que segue os exageros das fachadas. O espaço possui uma biblioteca com todas as obras herdadas da Abadia de Fécamp. Uma das partes mais interessantes da visita é conhecer as áreas onde o licor é fabricado. Amei cada minuto!
SERVIÇO
Centro Cultural Le Havre
8 place Oscar Niemeyer, 76600 Le Havre, França
Tel.: +33 2 35 19 10 20
https://bit.ly/2I1LJyV
Igreja de St. Joseph
130 Boulevard François 1er, 76600 Le Havre, França
https://bit.ly/2WaTeO1
MuMa
2 Boulevard Clemenceau, 76600 Le Havre, França
Tel.: +33 2 35 19 62 62
http://www.muma-lehavre.fr/
Hotel du Pasino
Place Jules Ferry, 76600 Le Havre, França
Tel.: +33 2 35 26 00 00
https://bit.ly/2EE2BLl
Le Grignot
53 Rue Racine, 76600 Le Havre, França
Tel.: +33 2 35 43 62 07
https://bit.ly/2wplc98
Le Margote
50 Quai Michel Fère, 76600 Le Havre, França
Tel.: +33 2 35 43 68 10
https://bit.ly/2WuiLkv
Le Bel Ami
25 rue Alphone Karr, 76790 Étretat, França
Tel.: +33 2 27 43 56 25
https://bit.ly/2YWeV17
Palais Bénédictine
110 Rue Alexandre le Grand, 76400 Fécamp, França
Tel.: +33 2 35 10 26 10
https://www.benedictinedom.com/flamboyant-palais/