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Mulheres na Ciência: Adriana Rolim coordena pesquisa sobre substituição de mamíferos em testes pré-clínicos

31 ago 2020 | Notícias

Por Redação

Falta de políticas públicas que estimulem a presença feminina na ciência e a redução dos custos voltados para a pesquisa são questões latentes na fala da Farmacêutica e professora doPrograma de Pós-Graduação em Ciências Médicas e Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza (Unifor) Adriana Rolim. Essas dificuldades não diminuem, contudo, o amor que ela nutre pela ciência e a relevância do estudo pioneiro no Ceará coordenado por ela: a utilização do zebrafish, ou peixe-zebra, em substituição aos mamíferos em testes pré-clínicos.

Mulheres na Ciência é um conteúdo especial desenvolvido pela plataforma MT em parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor) para dar visibilidade ao trabalho de mulheres cientistas que atuam no Brasil. A professora Adriana Rolim é a primeira entrevistada da série.

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A pesquisa acontece dentro do Grupo de Pesquisa Farmacologia de Produtos Naturais e Sintéticos da Unifor, coordenado por Adriana e que tem 70% de participação feminina. Segundo a professora, que é também pós-doutora em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a pesquisa com o zebrafish é uma tendência mundial e começou a se popularizar no Brasil a partir de estudos desenvolvidos em universidades no Sul do País. “O mesmo modelo aplicado em roedores, ratos e camundongos, padronizamos para aplicar no zebrafish”, detalha.

De forma paralela, o grupo desenvolve ainda projetos que visam avaliar a dor orofacial (que inclui dentes, ouvidos, face, cabeça e pescoço) em animais com traumatismo craniano e em animais que foram submetidos a uma superestimulação audiovisual. “Simulamos o uso excessivo de equipamentos eletrônicos por crianças”, observa a cientista.

Adriana Rolim coordena a pesquisa pioneira no Ceará sobre a substituição de mamíferos pelo zebrafish em testes clínicas. (Foto: Alex Campêlo)

Adriana Rolim desenvolve, ainda, uma pesquisa na área de Farmacologia para identificação de novos alvos terapêuticos para o tratamento da dor orofacial, um estudo preliminar para análise de compostos com atividade sobre o sistema nervoso central, como ansiedade, estresse ou convulsões. Para ela, todos os projetos em que se envolve são desafiadores.

“O início é sempre emocionante, uma vez que não é certeza que as hipóteses levantadas sejam confirmadas, contudo a pesquisa envolvendo o peixe zebrafish tem sido fonte de orgulho para a equipe envolvida no projeto, porque os testes implementados são inovadores. Com isso ganhamos muita visibilidade e ajudamos outras instituições a implantarem os modelos”, comemora. 

A pesquisadora viu o interesse pela área científica surgir ainda no Ensino Médio, com a descoberta de novos medicamentos, que foi o ponto de partida para escolher o curso de Farmácia. “Sou uma pessoa bastante curiosa, sempre quero aprender coisas novas, dos mais diversos assuntos. Acredito que isso foi um dos fatores que me fizeram seguir a carreira acadêmica”, conta.

Jornada de superações

Além das pesquisas inovadoras e pioneiras, o currículo de Adriana soma títulos como o de bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DT-2) entre os anos de 2012 e 2017, recurso concedido a cientistas que já têm destaque no meio acadêmico. A jornada até esse patamar, contudo, é marcada não somente por muito estudo e dedicação, mas por força e determinação para lidar com falta de políticas públicas que permitam a maior presença feminina na ciência e a constante redução de recursos financeiros governamentais destinados à pesquisa.

Para a cientista, a maternidade, momento especial e quase sagrado para algumas mulheres, se transforma em um fator de interrupção da produtividade acadêmica. “Eu não posso dizer que existiram barreiras para mim, pois tive muitos ‘anjos’ que me ajudaram. Mas tenho consciência de que sou privilegiada. A maternidade é crucial para a interrupção ou pelo menos a limitação da carreira científica das mulheres. É necessária mudança nas políticas de pesquisa para que a mulher não seja prejudicada durante o momento mais importante da vida”, diz Adriana.

Além das pesquisas inovadoras e pioneiras, o currículo de Adriana soma títulos como o de bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DT-2) entre os anos de 2012 e 2017. (Foto: Alex Campêlo)

Segundo um levantamento divulgado em fevereiro deste ano pelo Open Box da Ciência, as mulheres representam 40,3% dos pesquisadores que se declaram doutores na Plataforma Lattes, o que significa 31.394 doutoras no Brasil. ao todos são 31.394 pesquisadoras doutoras no Brasil. A pesquisa mostra ainda que a área com maior número de especialistas é a de Ciências da Saúde, com 28,612 pesquisadoras ou 36,73% do total.

“As mulheres são maioria entre os corpos discente e docente das universidades, no entanto, vemos poucas mulheres em cargos de liderança acadêmica e científica. Um dos motivos para que isso aconteça é a maternidade”, reforça Adriana.

Orçamento limitado 

O aumento de cortes governamentais na área cientifica por meio de bolsas de incentivo também é visto como desafio para a pesquisadora. Os cortes no setor são constantes, pontua, citando a recente alteração dos critérios de distribuição de bolsas de pós-graduação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes).

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“Estamos há alguns anos sofrendo com o financiamento cada vez mais escasso. Esse foi, inclusive, um dos motivos que nos estimulou a iniciar os testes com o zebrafish. Um país sem ciência é um país sem soberania. E, infelizmente, vivenciamos isso agora na pandemia. Essa falta de financiamento nos faz dependentes das grandes potências, desestimula que os jovens busquem a carreira científica e contribui para a evasão de cérebros do nosso país”, lamenta. 

Em busca de cientistas

Apesar das dificuldades, a pesquisadora se mostra otimista e revela que formar novos cientistas é sua maior conquista. “Ao longo da carreira já participei de diversos projetos de pesquisa que contribuíram para o entendimento do potencial farmacológico da nossa flora. No entanto, considero a possibilidade de formar novos cientistas como a minha maior conquista”, declara sobre a carreira acadêmica. 

E para quem quer seguir na área, ela aconselha: “não desista, insista. Apesar de tudo, o Brasil é um dos países com maior equidade de gênero na ciência”, afirma. 

Este conteúdo tem o apoio da Pós-Unifor, a pós que evolui com o mundo.

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