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Mulheres na Ciência: Normanda Morais estuda a resiliência dos indivíduos em situação vulnerável

1 set 2020 | Notícias

Por Redação

Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), sendo uma das duas mulheres indicadas pela região Nordeste para a entidade, a cientista e psicóloga Normanda Morais desenvolve pesquisas sobre o desenvolvimento humano em contextos de vulnerabilidade social, tendo como objeto de estudo famílias de diversos tipos. Os estudos aos quais se dedica têm como foco os processos de resiliência familiar e comunitária diante das adversidades vividas por esses indivíduos.

Mulheres na Ciência é um conteúdo especial desenvolvido pela plataforma MT em parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor) para dar visibilidade ao trabalho de mulheres cientistas que atuam no Brasil. A professora Normanda Morais é a segunda entrevistada da série.

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As pesquisas estão sendo realizadas no Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, família e comunidade (Lesplexos), ligado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor), onde Normanda coordena trabalhos com famílias de diferentes configurações, inclusive LGBTQIA+, abordando temáticas que envolvem vulnerabilidade social de diversos tipos.

Essas situações envolvem violências em variadas formas, situações de acolhimentos institucional, autismo e as deficiências, impactando nos processos de superação e enfrentamento das adversidades vividas por essas famílias e indivíduos.

“Trabalhamos essas temáticas pensando processos de resiliência, ou seja, as famílias e os indivíduos que estão em algumas dessas condições – que são fatores de risco ao seu desenvolvimento -, que processos elas vivenciam que as fazem superar, lidar com essas adversidades e seguir adiante nas suas vidas. Minha linha de pesquisa trata, então, do estudo do desenvolvimento humano em contexto de vulnerabilidade social. Focamos nos processos de resiliência, de superação e de enfrentamento que esses indivíduos e famílias vivem diante dessas adversidades”, explica a pesquisadora. 

A capacidade dos indivíduos em se adaptarem e superarem vulnerabilidades é o foco da pesquisa de Normanda Morais. (Foto: Alex Campêlo)

Recentemente, o Lesplexos lançou o Programa Fortaleza Famílias, iniciativa que disponibiliza cursos gratuitos sobre temáticas relacionadas às famílias no contexto da pandemia e pós-isolamento. Os vídeos abordam saúde mental, conjugalidade, parentalidade, perdas e luto, população LGBTQIA+, resiliência familiar, resiliência comunitária e práticas de cuidado em famílias. O material, que pode ser visto no canal do Lesplexos no YouTube, é direcionado a estudantes e profissionais da área de Psicologia, além de pessoas interessadas na promoção de saúde e bem-estar familiar.

Doutora e pós-doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Normanda desenvolve ainda estudos relacionados às diversas formas que os indivíduos buscam para superar adversidades.  “O tempo inteiro estamos negociando com essas adversidades, o tempo inteiro tentando buscar linhas de fuga para sobreviver de alguma forma. A despeito dos fatores de risco que nos cercam em diferentes situações, por exemplo, no caso  das famílias LGBTQIA+, para além da homofobia e dos preconceitos vivido spela sociedade, as famílias lançam mão de estratégias de superação e de fatores de proteção que as fazem seguir adiante”, relata. 

Conquistas inéditas e urgentes

Para a pesquisadora, é difícil elencar apenas uma iniciativa da qual mais se orgulha em ter participado, uma vez que, como professora da Unifor, já orientou diversos projetos de mestrado e de doutorado, fazendo parte da evolução e aprendizagem de muitos alunos em diferentes carreiras acadêmicas. “Eu diria, sem dúvidas nenhuma, que cada projeto é uma realização pessoal imensa, de cada projeto poderia eleger alguma conquista ou descoberta, algo que me marcou”, observa a professora. 

Contudo, a psicóloga relata ter imenso orgulho de um projeto em especial, pelo valor inédito e pela contribuição à época para o Brasil, sobre a exploração sexual comercial de crianças envolvendo o público de caminhoneiros, que resultou no Programa Mão Certa, realizado enquanto ela estava no mestrado, em 2002. 

“Tenho muito orgulho dessa pesquisa, porque era inédita no contexto brasileiro, marcou realmente o contexto de estudo sobre exploração sexual. Não se estudava muito o autor, o agressor sexual, muito menos esse público de caminhoneiros. Essa pesquisa traz uma novidade teórica importante, assim como uma novidade metodologia. Cresci muito como pesquisadora, rodei por muitos postos de gasolina no Brasil, fazendo coleta de dados com outros pesquisadores e treinando alunos de graduação para fazer essa pesquisa”, destaca Normanda. 

Destaque nacional

Professora titular e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unifor, a cientista lembra com orgulho que, entre todos os reconhecimentos dos anos dedicados à pesquisa, um dos maiores destaques foi a indicação, em 2019, para ser membro afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Normanda foi indicada, em 2019, para ser membro afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC). (Foto: Alex Campêlo)

Embora as mulheres sejam maioria na população, um estudo feito por pesquisadoras brasileiras da UFRGS no ano de 2018 indicou que dos 518 membros da ABC, somente 14% eram mulheres. O mesmo levantamento também mostra que somente 2% dos acadêmicos eram naturais da região Nordeste. 

“Como mulher, nordestina e docente de uma instituição privada, é motivo de grande alegria e responsabilidade fazer parte da ABC. A indicação recebida em dezembro de 2019 me estimula a continuar trabalhando em prol da ciência e para que esta cumpra sua mais nobre função: promover o desenvolvimento da nossa sociedade”, destaca.

A categoria de membros afiliados da ABC é formada por jovens pesquisadores, com menos de 40 anos e com trajetória de excelência na linha de pesquisa. As atividades como membro afiliada abrangem a realização de seminários e workshops, nacionais e internacionais, e a produção de documentos.

Produzindo conhecimento

O interesse pela Psicologia, conta Normanda, surgiu a partir da curiosidade pelo comportamento humano, assim como pela intenção de compreender melhor os diversos processos psicossociais que os seres humanos compartilham. “Nunca pensei na Psicologia sob a perspectiva clínica, aquela do consultório, mas sim ligada ao social e à pesquisa científica”, complementa.  

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Durante a graduação, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ela se envolveu em projetos e atividades de monitoria acadêmica, o que despertou atenção para a possibilidade de produzir conhecimento por meio da iniciação científica. “Acho que todo profissional, sobretudo, o profissional de Psicologia interessado no ser humano, deve ser um estudioso, um pesquisador e um cientista. Alguém que se pergunta, se interroga e não para de estudar”, considera. 

A dedicação à pesquisa, para ela, é uma contribuição à sociedade tão relevante quanto o exercício da Psicologia em si. “Apostei nessa carreira e nessa forma de fazer Psicologia porque eu me sentia mais contribuindo com a sociedade, vendo meu papel social, a questão da relevância social da minha profissão no mundo”, destaca.

Recursos em retração

A paixão pelo ofício de pesquisadora não esconde as dificuldades que o setor enfrenta no País, especialmente pela constante redução dos recursos dedicados à área. “Quando cruzei o país para estudar na Federal do Rio Grande do Sul, uma das melhores universidade do País na área de Psicologia, absolutamente meus estudos só poderiam ter sido custeados por meio desses auxílios, uma vez que precisava morar e estudar no Rio Grande do Sul se tivesse bolsa. A importância desses financiamentos é total, no sentido de viabilizar e realizar sonhos e projetos de pessoas que querem estudar e se dedicar à carreira acadêmica”, destaca.

Atualmente, Normanda é bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e recebe financiamentos que tornam possível o trabalho que ela desenvolve.

Passamos por uma ampliação desses financiamentos no País, e hoje vivemos um momento de retração. Vemos pessoas desistindo de sonhos ligados à pesquisa por entenderem que talvez não seja viável, ou não seja mais desejável no País que não tem a educação superior como prioridade. Isso, sem dúvida nenhuma, tem tolhido vocações genuínas para a docência e para a pesquisa”, lamenta. 

Atualmente, Normanda é bolsista de produtividade do CNPq e recebe financiamentos que tornam possível o trabalho que ela desenvolve. (Foto:. Alex Campêlo)

Espírito cientista

Para quem planeja um futuro na área da pesquisa e internaliza a ideia de que nem todo mundo nasce para se tornar um cientista, Normanda Morais destaca que todos temos e devemos alimentar o espírito cientista. “É importante perceber e reforçar que não é uma área para poucos, mas sim para aqueles que têm curiosidade. O espírito de cientista deve fazer parte de todo profissional. Pobre daquele profissional que não deseja aprender uma coisa nova a cada dia”.

Este conteúdo tem o apoio da Pós-Unifor, a pós que evolui com o mundo. 

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