8 out 2020 | Notícias
Terra seca e um povo sofredor. Por muito tempo, o Nordeste foi pintado com essas características, retrato que distancia-se cada vez mais da região potente em diversas áreas, incluindo tecnologia, economia e cultura. No Dia do Nordestino, celebrado nesta quinta-feira (8), os cearenses Max Petterson, Zelma Madeira, Celina Hissa e Totonho Laprovitera falam sobre o orgulho de pertencer ao lugar e a quebra de estereótipos ligados a ele.
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Mas antes, você sabe como surgiu essa data comemorativa? O dia 8 de outubro foi oficializado como o Dia do Nordestino em São Paulo, no ano de 2009, em homenagem ao centenário do poeta, cantor e compositor cearense Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré.
Morando na capital francesa há cerca de seis anos, o cearense Max Petterson ficou famoso nas redes sociais ao compartilhar as aventuras no exterior com bom humor. Para ele, ser Nordestino é resistência.
“O Nordeste é um bandeira que a gente levanta e trazemos toda a nossa cultura. É a representatividade de um povo que ama o lugar onde vive e defende isso até o fim”,
afirma Max.
Segundo ele, a resiliência também uma característica que não pode ser esquecida. “Somos um povo que tem sangue no olho e não desiste fácil das coisas. Herdamos coragem, força e bom humor. São pessoas que se conectam muito fácil com outras”.
Engajando seguidores com histórias engraçadas, Max fala sobre o estereótipo do nordestino irreverente, que por muitos anos esteve associado à chacota de minorias. Em vista disso, o debate sobre o que pode e não pode na comédia está em alta.
“Com a acessibilidade das informações, estamos nos conectando e a gente começa a se tocar que tinha diversas pessoas que se sentiam magoadas por algumas coisas na comédia. Uma coisa é fazer piada sobre a roupa da pessoa, outra coisa é falar sobre uma deficiência. Dá pra viver sem ofender as pessoas.
A professora universitária e titular da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Promoção da Igualidade Racial (CEPPIR) do Ceará, Zelma Madeira, também fala sobre o orgulho de ser nordestina e aponta alguns fatores históricos que moldaram a região.
“Para ver o Nordeste é preciso trilhar uma contradição. Ele é perpassado por vulnerabilidade, mas guarda uma diversidade étnica-cultural que influencia no desenvolvimento. Essa região foi castigada não pela natureza, mas por dimensões políticas,
diz Zelma.
Zelma defende que o estereótipo de “Nordeste atrasado” deve ser superado. “A globalização abraça todos os territórios. Consolidou-se como discurso de apartação do Brasil que a causa do subdesenvolvimento do País seria o Nordeste, isso não corresponde com o real. Na verdade, a região carece de mais investimento no povo e no que ele sabe fazer”, aponta.
A titular do CEPPIR ainda aborda o recorte de gênero e como a imagem da mulher nordestina está sendo modificada. “Somos socializadas a partir de padrões e não podemos romantizar as relações de gênero. O que é ser mulher no Nordeste, e no Brasil? Estão impregnados nos valores culturais uma forte dominação masculina, uma tentativa de colocar a submissão, a exclusiva responsabilidade no cuidado dos filhos, para nós. Não temos como sair desses padrões de socialização, mas podemos reconstruí-los de uma forma positiva“.
Para Celina Hissa, diretora criativa da Catarina Mina, o Nordeste representa lugar de origem e construção, o que influencia diretamente as criações da marca.
“Tudo o que desenvolvo é conectado com a minha origem e também com a vontade de novas relações e um mundo melhor. Acreditamos muito na força que temos aqui,
afirma Celina.
A valorização do potencial cultural do Nordeste por meio do resgate das tradições impulsiona Celina. “Compartilho muito do senso de comunidade de muitos lugares que visito e entendo que tudo está conectado. Aprendemos que o problema de uma pessoa é um problema nosso também e a sustentabilidade tem relação com isso. Com esses grupos de artesões, vamos aprendendo sobre as ancestralidades para resgatar esse saber”, comenta Celina, que lidera a marca conhecida por trabalhar o consumo consciente e a econômica sustentável.
O arquiteto, urbanista e artista plástico cearense Totonho Laprovitera diz que a região, para ele, representa essência.
“Saber enxergar o Nordeste é saber vivê-lo, com seus incontáveis tesouros imateriais que dão sentido a arte em comunhão com a vida”,
reflete.
Totonho ainda fala sobre o estereótipo do nordestino “cabra macho” e a ideia de que os homens não podem chorar, pois seria considerado um sinal de fraqueza. “No livro Os Sertões, Euclides da Cunha escreveu uma das frases mais marcantes da literatura brasileira: ‘O sertanejo é, antes de tudo, um forte’. Respeitemos o choro dos simples, pois ele representa a infinita força. Sim, o homem nordestino chora”.
Ao Site MT, o artista disponibiliza um poema neste dia especial:
Ser do Nordeste
Ser do Nordeste,
da cultura universal,
é ser cabra da peste,
do bem contra o mal
Ser do Nordeste,
do chão sagrado,
da caatinga, do agreste,
no sertão criado
Ser do Nordeste,
do forró, do xaxado,
do céu azul celeste,
do cordel tão bem contado
Ser do Nordeste,
no tempo bonito
de chuva se veste
da fé do infinito
Ser do Nordeste
é ser fecundo
De leste a oeste,
ganhar o mundo
Ser do Nordeste
é ser de sorte
e é, inconteste,
da vida um forte
Ser do Nordeste
de tantos ideais
é, sem areste,
tão bom demais!