30 abr 2021 | Poder
Elemento mais abundante em todo o universo, o hidrogênio verde – combustível produzido praticamente sem impacto ambiental – é a aposta do Ceará para o uso na geração de energia limpa. A nova tecnologia, de acordo com o secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Maia Júnior, poderá abastecer a indústria nacional e internacional, em substituição a combustíveis fósseis, reduzindo a emissão de poluentes no ar. Além disso, comemora ele, o Estado conta com diversas potencialidades para implementação de usinas do tipo em todo território.
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Também conhecido como gás verde, explica Maia Júnior, o combustível é obtido através de transformações tecnológicas que fazem parte de um processo físico-químico chamado eletrólise da água, ou seja, pela quebra da molécula de H2O com uso da eletricidade. O gás extraído passa a ser utilizado como fonte de energia, todo o processo emite apenas vapor d’água, inofensivo para o meio ambiente.
O secretário adianta que a ideia é montar no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) uma planta de eletrólise que use como insumos as energias eólica e solar para produção do gás. “A reação da energia, vinda de uma fonte qualquer, com a água cria o gás ‘H2Z’, que pode ser utilizado em transportes de qualquer natureza, inclusive, públicos e veículos particulares. Também pode ser usado na indústria e em siderúrgicas, por exemplo, podendo substituir o carvão futuramente”, detalha Maia Júnior.
“A mesma tecnologia de transporte de hidrogênio verde já vem sendo utilizada no Japão. O hidrogênio verde é uma peça-chave para ajudar os países no processo de transição energética mais limpa”, pontua sobre o gás ser considerado o vetor energético do futuro.
Recebendo o nome de Base One, o projeto de produção de hidrogênio verde no Ceará prevê investimento de U$ 5,4 bilhões e é uma decisão estratégica do Governo do Estado de visibilidade internacional. “Buscamos nos setorizar com o resto do mundo e cumprir o acordo de Paris, que prevê descarbonização até 2050, substituindo os combustíveis fósseis. Alguns [países] farão a substituição mais cedo, outros mais tarde. Existe um compromisso do Ceará em cumprir o acordo, mesmo sem ser signatário”, afirmou. O Acordo de Paris, assinado por mais de 190 países, tem como meta zerar a emissão de gás carbônico no mundo até 2050.
A empreitada estadual, segundo o secretário, vem sendo estudada há dois anos e resultou na assinatura, em março deste ano, de um memorando de entendimento com a empresa australiana Enegix Energy. O objetivo, aponta ele, é abastecer uma planta com mais de 3.4 gigawatts (GW) de energia renovável e gerar mais de 600 milhões de quilos de combustível por ano quando estiver em pleno funcionamento.
“Em breve, o mundo todo vai estar rodando em carros movidos a gás, chamado hidrogênio verde. É um novo ciclo para a humanidade”, projeta Maia Júnior.
“Vemos como uma oportunidade de gerar uma riqueza, uma vez que o hidrogênio verde estará para o Ceará como o petróleo esteve para o Rio de Janeiro nos anos 1950. Nosso estado tem todas as condições de produzir e exportar hidrogênio não só para o Brasil, assim como para outros continentes, uma vez que temos abundância de energia limpa, tanto a gerar quanto produzindo atualmente. Temos reservas para gerar energia eólica e solar equivalente a quase oito vezes da capacidade instalada no Brasil na sua matriz energética para atender o País de energia, ou seja, podemos oferecer oito vezes o que o Brasil produz hoje”, garante.
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Em outra frente estratégica, de acordo com o secretário, estão os parceiros para estruturação da cadeia produtiva em torno do hidrogênio verde no Ceará, entre eles o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Agência de Desenvolvimento Alemão para realizar pesquisas envolvendo o combustível no setor da aviação.
“Estamos agregando a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), que nos procurou e vai tecnologicamente apoiar o projeto. Já com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), montamos um protocolo para definir estímulos e direcionamentos nessas políticas no Ceará – como fizemos 20 anos atrás com as energias renováveis. Estamos capacitando recursos humanos para acelerar a pesquisa e a formação de quadros para trabalhar nessa indústria que chegará ao Ceará nos próximos anos”, reitera.
A iniciativa, revela, oferecerá vantagens à comunidade local e ao estado, visto que poderá criar milhares de postos de trabalho ao longo da construção e empregos fixos para a operação e o gerenciamento. “É importante que se saiba que não é um projeto de resultado imediato, demora de 10 a 20 anos para estar maduro e fazer a transformação que estamos propondo. É uma grande aposta para a economia do Ceará mudar de rumo e de patamar”, estabelece o titular da Sedet.
Um Grupo de Trabalho, do qual o Complexo do Pecém, Sistema Fiec, a Sedet e a UFC também fazem parte, foi criado para conduzir a implantação de um Hub de hidrogênio no Estado, e um dos responsáveis é o consultor de energia da Fiec e presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Energias Renováveis do Ceará (CS Renováveis), Jurandir Picanço.
Segundo o executivo, no primeiro momento o hidrogênio produzido no Ceará será exportado e irá abastecer navios que irão transportar o gás para a Europa. O Estado, avalia, será privilegiado em negociações internacionais porque o Complexo do Pecém tem uma administração em parceria entre Governo do Estado e o Porto de Roterdã, na Holanda, que quer se transformar no principal porto importador de hidrogênio verde da Europa.
“Além disso, a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) pode reduzir bastante os custos tributários desse empreendimento, uma vez que existem muitos incentivos quando o produto é direcionado para a exportação como será, de início, o hidrogênio verde”, defende.
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O Observatório de Energia da Fiec, assim como o Núcleo de Energia, irão atuar oferecendo toda a estrutura necessária para apoiar o desenvolvimento da usina no Estado. “Neste momento o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senai CE) está estudando e desenvolvendo formas de treinar pessoal para as atividades realizadas na usina. A Fiec está à disposição para apoiar esse projeto”, garante.
O próximo passo para a implementação da usina, detalha, está em fase de objeto de estudo a fim de se definir a capacidade real do porto e quanto irá comportar. “O que temos hoje é uma oportunidade excelente a ser desenvolvida, mas estamos no início do seu desenvolvimento”, finaliza.